26 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 61


(são paulo atual)


centro urbano
cotidiano
microcidade ampliada
fé degradada
anseio oculto
tempo inculto

centro cotidiano
moda em coda
rabo de arraia
circo de pano
rabo de saia

macrocentro
cidade dentro
do útero maior
infeliz cidade
sentido bruto
do estado de luto
do estado de luta

ao fogo puro
o cristal mais duro
calidoscópica alquimia
cadinho de humanas cores
como doce ambrosia
em doces sabores de alfajores
estranhos falares
fétidos altares
todos entranhados
de todas as crenças
de todas as lendas
de todo o lodo
de novos templários

cauda ampliada
em corpo e cenários
jardins ordinários
de flores de plástico
o centro orgiástico
é centro e mais nada
do circo de pano
do útero urbano
genérica geléia
desairada paulicéia


fim

25 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 60


(são paulo atual)


já houve garoa sobre a cidade
já houve espanto por chaminés
já houve orgulho em seu emblema
já houve azáleas nos canteiros

restou apenas
um grande olho de esperança em cada pedra

24 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 59




(são paulo - virada cultural 2009 - foto de daniella gomes)



no caos que busca
a si mesmo
experimentar
cabem todas as experiências

e a cidade em sua mais estranha forma
se conforma
em ser apenas
o ninho conturbado

23 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 58




(são paulo atual- ladeira porto geral - foto de janaína calaça)




porto não há mais afinal
mas não há fuga mais faceira
de um amor desconfiado
que descer rápido a ladeira
Porto Geral

22 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 57


(são paulo atual - ladeira general carneiro)



sem eira nem beira
fuja por um dia inteiro
do seu amor alucinado
pela louca ladeira
de um certo General Carneiro

21 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 56


(são paulo atual - ladeira da memória - foto de marcelo parise petaz)



num dia em fim de feira
esqueça para sempre a história
do seu amor fracassado
descendo meio de lado
a ladeira
da Memória

20 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 55


(são paulo atual)




alado ser
de papel e linha a bailar
no ar frio da tarde
estranho ser
à linha
preso
por
um
fio




19 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 54


(são paulo - virada cultural 2009)




mágico malabarista músico e cantor
na rua a roda de muita gente
e o contínuo atrasa a entrega
do documento urgente

18 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 53


(são paulo, viaduto do chá, - foto de Jefferson Pancieri)




sobre a ponte um ponto e no ponto ponteia o pó

17 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 52


(são paulo - foto de yuri alexandre)



no ar o aroma arma armadilhas de amor
(era só uma loja de cheiro)

16 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 51


(são paulo antiga - avenida são joão)



foi há muitos anos já
mal chegado das minas gerais
ainda paulistano não era

foi há muitos anos já
cruzando a São Bento com São João

luzes
dezenas de luzes vermelhas
ao sol vermelho do poente

e de repente o som
o som do passado surgido
cantando a voz do seresteiro
a serra da Boa Esperança

foi nesse momento
que a alma mineira arrefeceu
foi nesse preciso momento
que um novo paulistano nasceu

15 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 50


(são paulo - avenida são joão)



do vale sobe a avenida
na busca do poente
por ela desce a noite
de repente

14 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 49


(são paulo antiga)



um cadáver no meio-fio
há horas ali esparramado
apenas uma pausa de susto
entre a manhã terminada
e o encontro da tarde adiado

13 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 48


(são paulo antiga - casa de mário de andrade na rua lopes chaves)


um dia um poeta louco
cantou-te desvairada
mas seus versos foram poucos
na visão do que te tornaste
ainda mais paulicéia
ainda mais alucinada

12 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 47




(são paulo 1925 - anhangabaú - foto de Guilherme Gaensly)


no vale passava o rio
no rio passavam barcos
no vale passam luzes
as luzes conduzem sonhos

11 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 46




(são paulo antiga - pátio do colégio)



na praça antiga um dia
plantou Anchieta sua capela
floresceu no entanto a cidade
agnóstica e bela

10 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 45


(são paulo - estádio do pacaembu 1941)



se chove ou faz sol
se anoitece ou amanhece
há sempre um sonho
sobre a multidão

9 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 44


(são paulo 1917 - rio tietê)



belo que no feio existe
feio que no belo persiste
centro central concêntrico
vida que na vida insiste

8 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 43


(são paulo antiga - victor brecheret)


havia uma estátua nua
na galeria do viaduto
até que uma certa manhã
(sorriu do túmulo o escultor modernista)
apareceu de sutiã

7 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 42


(são paulo 1913 - praça da sé)



louco o moço esguio
que exorciza o demônio
(bíblia surrada em punho)
louca a moça bem vestida
que fingiu ter um demônio
(e o demônio passeia entre os fiéis
batendo carteiras de um real)

6 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 41


(são paulo antiga - multidão aplaude júlio prestes)




canta canta violeiro
canta o dia inteiro
pra ganhar o seu dinheiro
que veio do mundo inteiro

5 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 40


(são paulo antiga - rua boa vista)



uma nesga entre prédios
a boa vista se expande
ao infinito do rio
ali em baixo

4 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 39


(são paulo antiga - solar da marquesa)



no solar da marquesa
não há santos nem fantasmas
no solar da marquesa
há sonhos que não voltam mais

3 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 38


(são paulo antiga - hotel esplanada e theatro municipal - 1915)



quem contempla a realeza
das palmeiras imperiais
quem bate o nariz no tronco
das palmeiras imperiais

2 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 37






(são paulo 1910)





ali no meio do vale
o viver é impreciso
como um verso de Fernando Pessoa

1 de dez. de 2009

COTIDIANO CENTRAL PAULISTANO - 36


(são paulo antiga)


é preciso chegar rápido
é preciso andar rápido
é preciso olhar rápido
é preciso viver