24 de dez. de 2024

som de vida





busco um som perdido

na minha memória

em cafundós de sonhos

e invenções de história



um som de estranhos estalidos

de leves pisadas em tecidos

das teias entre galhos enegrecidos



um som que pode ser um grito

um som que pode ser um apito

ou apenas o leve ondular do vento

que não me traz nenhum alento

talvez apenas um pequeno agito

da flor no tronco do mandacaru

quando brilha no céu de agosto

a estrela maior do cinturão do guerreiro

e a cobra d’água se esconde no buraco do tatu



esse som que me traz desgosto

esse som que me angustia

no meu mergulho no passado

não está na noite nem no dia

está no peito entalado

como um quarteto de cordas desafinadas

a tocar sonatas num teatro vazio

no mesmo palco de luzes apagadas

onde minha mente tece melodramas

de angústias escondidas

em saudades atreladas

ao vento da noite que não dorme



sonho na madrugada insone

que esse som que me consome

não seja apenas uma quimera

em minha mente surgida

como uma teia mágica urdida

para que durem aqui na terra

os meus tão poucos dias de vida





16.6.2024

(Ilustração: Vincent van Gogh - Le Jardin de Daubigny, 1890)

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