busco um som perdido
na minha memória
em cafundós de sonhos
e invenções de história
um som de estranhos estalidos
de leves pisadas em tecidos
das teias entre galhos enegrecidos
um som que pode ser um grito
um som que pode ser um apito
ou apenas o leve ondular do vento
que não me traz nenhum alento
talvez apenas um pequeno agito
da flor no tronco do mandacaru
quando brilha no céu de agosto
a estrela maior do cinturão do guerreiro
e a cobra d’água se esconde no buraco do tatu
esse som que me traz desgosto
esse som que me angustia
no meu mergulho no passado
não está na noite nem no dia
está no peito entalado
como um quarteto de cordas desafinadas
a tocar sonatas num teatro vazio
no mesmo palco de luzes apagadas
onde minha mente tece melodramas
de angústias escondidas
em saudades atreladas
ao vento da noite que não dorme
sonho na madrugada insone
que esse som que me consome
não seja apenas uma quimera
em minha mente surgida
como uma teia mágica urdida
para que durem aqui na terra
os meus tão poucos dias de vida
16.6.2024
(Ilustração: Vincent van Gogh - Le Jardin de Daubigny, 1890)
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