11 de jan. de 2011

O NAVIO DE MEU PASSADO



(Javier Arizabalo)





Não faço poesia como quem chora,
nem conto o passado como se fosse o agora.
Meu tempo é sempre o respiro
dos pulmões com que vivo:
de cada passo do caminho eu retiro
a batida do tambor mais primitivo
e sigo sempre para o norte ou para o sul, não importa,
sigo sempre, como se fossem companheiras
todas as pedras em que tropeço.
A onda que vem do futuro e que escoa como areia
aos meus ouvidos soa como o canto da sereia,
canto que só eu escolho ouvir, como Ulisses redivivo
que não encontra do mar entre os escolhos
de Ítaca o chamado poderoso, porque trago
eu, aqui, bem dentro de meus olhos,
- como um travo bem travado –
a esperança com que naufrago
o navio do meu passado.

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