17 de mai. de 2018

liberdade







como são frágeis as asas da liberdade

a voar sobre operários e camponeses

qualquer aragem que sopre da boca dos malditos

faz que ela caia e arrebente com todas as lutas



soltamo-la à liberdade de nossas gaiolas e de nossas gargantas

não conseguimos no entanto manter o seu voo de fênix

e se a vemos como fênix é para que nunca deixemos

de aquecê-la em nosso peito como aos filhos que procriamos



como são frágeis as asas da liberdade

quando a soltamos de nossas gargantas

qualquer sopro da boca de um canhão

derruba seu voo e destrói nossos sonhos



acolhemo-la à liberdade após cada voo em nossas casas

aquecemos suas asas quebradas com o fogo de nossos anseios

esperamos que se cicatrizem suas feridas e suas desesperanças

e soltamos de novo suas asas para que ela voe sobre nós



como são frágeis as asas da liberdade

depois de tantos voos e sobrevoos

as asas e os olhos feridos de traições

acendem de novo nossos corações



tantas vezes voa a frágil liberdade levada por ventos

que brotam de nossas angústias e de nossa persistência

que mil vezes esquecemos de contar nossos mortos

e enterrar nossos filhos para seguir com os olhos o seu voo

e se são frágeis as asas da liberdade

que voa e sobrevoa sobre nós

fortaleçamos nossos braços e nossa luta será

também a fênix que sempre renasce






27.4.2018




(Ilustração: Debora Arango, 1907-2005 - huelga de estudiantes)


(Ouça esse poema, na voz do autor, neste endereço de podcast:


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