19 de set. de 2024

os corvos

 




será sempre mais belo

o poema que não escrevi



será sempre mais doce

a fruta que não comi



o passo marcado no pó do caminho

não sabe o destino que escolhi



incertezas

apenas incertezas desfolham

cada gesto que o tempo encolheu



penso ser o navio encalhado

o calhau na hélice do futuro



se a rosa que perfuma

cai ao vento da fortuna

permaneço a marca no fundo do rio



imanente é o tempo

– sempre ele –

que tenho para viver



deixo na rosa o sonho

colho do espinho a esperança



– que seja eu o seixo na estrada

– que seja eu o vale que renasce

depois da tempestade



ossos pelo caminho

são o que restou

– não os cobri de lágrimas

e não os quero sob a terra

– testemunhem apenas

– testemunhem –

os poemas que não escrevi

os frutos que não colhi

os destinos que não escolhi

e que não os biquem

os corvos de sempre



10.1.2024

(Ilustração: Andrea Kowch, 1986)











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