2 de mai. de 2025

quando se manda um conde tomar no cu

 





Tua dignidade, onde está, meu senhor, onde?

No cu do conde,

onde teu avô se esconde?.



Conde, condessa,

barão, baronesa,

príncipe, princesa,

tudo

título de nobreza

dado por quem?

hem? hem? por quem?

por um deus cagão

vestido de roupão

de seda?

ou por um deus pregado

e coroado

de espinho,

sem pena de passarinho,

num triste madeiro?



senhor conde, senhora condessa,

sois, mesmo, herdeiros

de que sangue mais ameno

que azul

de metileno?

o que tem nas veias o barão?

licor de alcatrão?

o que tem na cabeça

essa nobreza?

chifres de ouro?

e o conde, e o cu do conde?

tem menos pregas o cu do conde?



ah! essa nobreza que se esconde,

se esconde onde?

no porão cheio de ratos

ou dentro de lava-jatos

de gasolina azul?



quando se come um conde,

cru ou assado,

com o dedo cruzado

em talheres de ouro,

pode haver maior desdouro

que não lhe respeitar as ventas?



que conde, que nada,

apenas rapadura maltratada

de heranças imbecis;

carne nobre é carne de boi,

dependurada

em ganchos de ouro no açougue

sem glória,

sem história,

de tempos servis;



teu preço em ouro, senhor conde,

onde se esconde, senhor conde,

no teu cu de conde

ou no teu vil porão de grandes castelos?



tua língua oculta, teu semblante vazio,

senhor conde, não cabem em chinelos

do teu desvario:

me diz, senhor conde, vergonha não há

em comer mortadela e arrotar vatapá?

em vestir esses trapos de sujas bandeiras

como se fossem reles trepadeiras

de unhas-de-gato?

brincando de rato, de chato,

coroas de lata,

falsos festins, luas de nada,

nem ouro nem lata.

nem punhal de prata,

teu anel de pedra-pome, onde

seu velho conde? onde?



na campina, um corcel;

no castelo, o bordel;

aqui, seu conde, aqui, ó,

cagando teu ouro,

teu tesouro,

não estou assim tão só:

há, para cada um só conde,

milhares e milhões de bocas

todas loucas, muito loucas,

para te comer, senhor conde,

e milhares de paus e pedras

para te foder, senhor conde,

e tu me perguntas onde?

ora, senhor conde, se me permites

(sim, tu concordas com tudo,

em teus trajes de veludo)

mando-te já, com espinho de mandacaru,

tomar bem no olho do conde,

bem no olho do teu cu.





15.12.2005

(Ilustração: Agnolo Bronzino - Portrait of Cosimo I de' Medici as Orpheus)





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