julho de mais um ano de desgraças se esfuma
- está já quase no fim –
miserável tempo que passa
para os ventos de agosto logo açoitar as folhas das árvores e firmar-se como soberano de um inverno que começou lá em março de 2020 e não há sonho no meu sono capaz de trazer de volta o que o tempo desfaz e não há no verso qualquer sombra de um vulto que me espreite na alfombra de uma tarde
de maciez de seios e coxas
quando sem alarde
seja eu o protagonista renascido
ao abrigo dos ventos de agosto
a provar de um vinho claro e sem mosto
que escorra pelo riacho perdido
entre os teus refolhos
e os teus olhos
de gazela espantada ao tiro do caçador
mas atenta a cada suspiro e a cada estertor
de nossos corpos ardentes a despeito dos frios ventos do inverno e julho se esvai ao meu suspiro e desse suspiro resta apenas mais uma mancha no lençol pela manhã de julho que aos poucos se esfuma pela janela aberta de minha desesperança
19.7.2021
(Ilustração: Marianne von Werefkin, 1860–1938)
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