29 de mai. de 2025

ventos de agosto

 



julho de mais um ano de desgraças se esfuma

- está já quase no fim –

miserável tempo que passa

para os ventos de agosto logo açoitar as folhas das árvores e firmar-se como soberano de um inverno que começou lá em março de 2020 e não há sonho no meu sono capaz de trazer de volta o que o tempo desfaz e não há no verso qualquer sombra de um vulto que me espreite na alfombra de uma tarde

de maciez de seios e coxas

quando sem alarde

seja eu o protagonista renascido

ao abrigo dos ventos de agosto

a provar de um vinho claro e sem mosto

que escorra pelo riacho perdido

entre os teus refolhos

e os teus olhos

de gazela espantada ao tiro do caçador

mas atenta a cada suspiro e a cada estertor

de nossos corpos ardentes a despeito dos frios ventos do inverno e julho se esvai ao meu suspiro e desse suspiro resta apenas mais uma mancha no lençol pela manhã de julho que aos poucos se esfuma pela janela aberta de minha desesperança



19.7.2021

(Ilustração: Marianne von Werefkin, 1860–1938)

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