9 de set. de 2025

eu e meu nome

 





decomponho em números o meu nome

2 letras I

2 letras S

2 letras A

e as três letras formam o antropônimo ISA

– o nome de meu primeiro alumbramento

[não o alumbramento do poeta

– eu tinha apenas 7 anos –

nada sabia do Recife – nada sabia de alumbramentos]



e daí – eu pergunto

e daí – nada – eu mesmo respondo

são números e coincidências da vida

nada dizem esses números

também nada diz o antropônimo ISA

nem de minha vida nem de meu futuro já passado



o tempo – sempre ele – o maldito tempo

naufragou em rios negros de ilusões

todos os meus futuros e já passados sonhos

naufragou em abraços vazios

todos os meus amores



– ah! esses amores!

tive-os até mais do que imaginara

amores bons e calmos como brisa de outono

amores tempestuosos como um tango argentino

amores duradouros como os arbustos da serra

e até amores inúteis e fúteis

como as lágrimas que por eles derramei

– não me detive por eles

não me penitenciei por eles

e hoje bebo uma taça de vinho por seus naufrágios

e penso na solidão de que me lambuzaram

– esses amores todos –

desespero-me apenas por não os ter na memória

para ver e rever as águas revoltas

que os rolaram montanha abaixo



não importa mais

vivo e sobrevivo

na minha angústia de spleen do século XIX

[tão fora de meu tempo de bites e bytes]



se recorro à memória [e ela me trai

como me traíram os muitos amores]

e se a esses amores

tento voltar de vez em quando

é que me reservo a mim

aquele tanto de masoquismo

[de masoquismo amargo]

que todo poeta deve cultivar



e eu que carrego um nome de letras repetidas

e eu que carrego todo um mar de solidão

desse masoquismo tresloucado

bebo com prazer

gota a gota e cada gota

de todo o seu amargor




13.8.2025

(Ilustração: escultura de Daniel Popper)

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