decomponho em números o meu nome
2 letras I
2 letras S
2 letras A
e as três letras formam o antropônimo ISA
– o nome de meu primeiro alumbramento
[não o alumbramento do poeta
– eu tinha apenas 7 anos –
nada sabia do Recife – nada sabia de alumbramentos]
e daí – eu pergunto
e daí – nada – eu mesmo respondo
são números e coincidências da vida
nada dizem esses números
também nada diz o antropônimo ISA
nem de minha vida nem de meu futuro já passado
o tempo – sempre ele – o maldito tempo
naufragou em rios negros de ilusões
todos os meus futuros e já passados sonhos
naufragou em abraços vazios
todos os meus amores
– ah! esses amores!
tive-os até mais do que imaginara
amores bons e calmos como brisa de outono
amores tempestuosos como um tango argentino
amores duradouros como os arbustos da serra
e até amores inúteis e fúteis
como as lágrimas que por eles derramei
– não me detive por eles
não me penitenciei por eles
e hoje bebo uma taça de vinho por seus naufrágios
e penso na solidão de que me lambuzaram
– esses amores todos –
desespero-me apenas por não os ter na memória
para ver e rever as águas revoltas
que os rolaram montanha abaixo
não importa mais
vivo e sobrevivo
na minha angústia de spleen do século XIX
[tão fora de meu tempo de bites e bytes]
se recorro à memória [e ela me trai
como me traíram os muitos amores]
e se a esses amores
tento voltar de vez em quando
é que me reservo a mim
aquele tanto de masoquismo
[de masoquismo amargo]
que todo poeta deve cultivar
e eu que carrego um nome de letras repetidas
e eu que carrego todo um mar de solidão
desse masoquismo tresloucado
bebo com prazer
gota a gota e cada gota
de todo o seu amargor
13.8.2025
(Ilustração: escultura de Daniel Popper)
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