18 de set. de 2025

novas velhas cançonetas de amor

 








1.

o tanto de coisas

que temos em comum

traz-me a suspeita

de que um dia

- quem sabe?

eu peça ao vento

um beijo teu



2.

um dia olhei fundo

no mais fundo dos teus olhos

- lembrei-me de Nietzsche



3.

talvez eu queira

que me dês tuas mãos

para que eu possa apertá-las

como apertaria uma nuvem



4.

no meio da tarde

pensei em ti

será esse um sinal

de que há rosas

no meu jardim?



5.

não quero sonhar contigo

porque o sonho atraiçoa-me

quero apenas a cabeça livre

sobre um travesseiro de plumas



6.

quando penso em ti

vejo sombras na parede

e então sei

que não estou sonhando



7.

sigo pela rua sozinho

e meus passos tropeçam

nos sonhos que sonho

sonhando que tu existes



8.

há meu desejo de ser feliz

e há teus caminhos aleatórios

escolho esperar que voltes

no próximo raio de lua



9.

compartilho contigo

meus dias que virão

olhas apenas

para meus dias

perdidos no tempo



10.

sei que és espanto e sonho

sabes que sou vento e abraços

caminhamos assim

dois velhos amantes

que ainda não se amaram





18.6.2025

(Ilustração: escultura de Étienne Pirot - La conversation - Havana, Cuba)





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