7 de mar. de 2021

silêncio do vento






vejo-me em sonhos de noites frias

a caminhar caminhos de montanhas de lua

os passos lentos a quebrar folhas secas

a ferirem-se os pés nas pedras das quebradas



o vento em meu rosto em pleno agosto

tortuosos os caminhos e descaminhos

como a vida que caminha para o alto



o céu de bronze com poucas nuvens

a cabeça vazia de pensamentos e desejos

só a montanha e os passos lentos



as folhas secas estalam a cada passo

pedregulhos rolam às vezes pelo abismo



caminho não pensando em ti não pensando em nada

vou pela montanha acima como se melíflua entidade

a caminhar pela vida sem saber que não há caminhos

sem saber que tudo quanto caminhei até agora sabe a mofo



e de repente o silêncio pesado e morto como se o vento

não mais soprasse e não mais meus passos pesassem



não sei se esse silêncio assim tão de repente no caminho

é apenas a impressão que carrego de meus pesadelos

ou a ponta de areia que leva ao alto onde não há nada

nada além da paisagem que se contempla enfim

quando nossos passos deixam atrás nosso último rastro





5.11.2020

(Ilustração: Camille Pissarro:  A Cowherd on the Route de Chou-Pontoise)

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