16 de out. de 2024

para minha mãe



queria hoje ter a fé dos desvalidos

para conversar de novo com minha mãe

mas mesmo sem qualquer metafísica

falo com ela todos os dias da minha vida



o eu menino que convive em mim

chora o choro infantil de cada dia

no colo de minha mãe que me acolhe

sou o frágil broto que não cresceu



olho para o tempo o tempo todo

sabendo que o tempo que tenho

é sempre o tempo que não tive

nem o tempo que nunca terei



quando tive o tempo com minha mãe

talvez não tenha tido toda a consciência

de que fulge o tempo feliz como o raio

que não luz duas vezes na mesma nuvem



não colhi todos os beijos que necessitara

nem me dei conta de que um dia

tudo quanto gostava teria um fim



hoje sou apenas a sombra que sonha

com meu passado como se fosse o futuro

sem a fé dos desvalidos de rever minha mãe



28.8.2024

(Foto de família: minha mãe e meus filhos)

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