5 de jan. de 2025

águas que sobem

 





quando as águas sobem

levam tudo que os pobres não têm



será que um dia

as águas vão subir

e bater na bunda dos ricos



quando as águas subirem

e baterem na bunda dos ricos

e levarem uma pequena parte

daquilo que os ricos têm

o que será que os ricos vão fazer



quando as águas sobem e levam

tudo aquilo que os pobres têm

o que fazem os pobres

depois de sentar e chorar

todos nós sabemos



depois que as águas baixam

deixando ainda mais pobres os pobres

de quem elas – as águas – levaram tudo

os pobres fazem mutirões

recolhem donativos

reconstroem suas pobres casas

reconstroem seus pobres barracos

e esperam a próxima cheia

[não têm os pobres outra opção]



e os ricos – o que fazem os ricos

quando sentem que as águas

subiram e bateram em suas bundas

levando parte – pequena parte –

de tudo quanto possuíam

[coisa que – convenhamos –

é muito difícil de acontecer]



ah os ricos! – os ricos tiram

seus traseiros gordos

das cadeiras de chefe

das poltronas de veludo

pegam seus iates gordos

navegam pelas águas gordas

com sorrisos de escárnio

bebericam uísque doze anos

dançam

festejam

e pescam dourados engordados

pelos restos que vieram

das cheias de todos os pobres

[não têm os ricos outra opção]



8.11.2024

(Ilustração: Cássia Brizolla - a enchente na Vila Pantanal)



Ouça este poema na voz do autor, Isaias Edson Sidney, nestes endereços:

- no You Tube:


- no podcast do Spotfy: