às vezes penso
quão inúteis os meus poemas
versos e mais versos que não aliviam
as minhas desesperanças
nem abalam corações e mentes
penduricalhos – apenas penduricalhos
de uma vida – margem de rios
em pororoca – que se esboroa
tento reconstruir com meus poemas
as pontes naufragadas
nos rios de minhas lágrimas
e os traços tortos desses esboços
servem somente aos meus sonhos
como raios tênues de esperanças mortas
muitas vezes penso
quão vazios os meus poemas
– inúteis como a própria vida
que carrego – casco endurecido
de um jabuti sem rumo –
per una selva oscura
tantas vezes penso e repenso
quão toscos os meus poemas
– calhaus que as águas levam
para os poços profundos
das cachoeiras
de minhas frustrações
então a certeza
– se a vida me empobreceu
também meus versos
ficaram mais pobres
[não que fossem nobres]
reflexo do que tenho vivido
consequência inevitável
– o que é mais provável –
de tudo que tenho sofrido
8.8.2025
(Ilustração: escultura de Bruno Catalano - Les Voyageurs;
Marselha, França)

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