8 de dez. de 2025

inúteis poemas

 




às vezes penso

quão inúteis os meus poemas

versos e mais versos que não aliviam

as minhas desesperanças

nem abalam corações e mentes

penduricalhos – apenas penduricalhos

de uma vida – margem de rios

em pororoca – que se esboroa



tento reconstruir com meus poemas

as pontes naufragadas

nos rios de minhas lágrimas

e os traços tortos desses esboços

servem somente aos meus sonhos

como raios tênues de esperanças mortas



muitas vezes penso

quão vazios os meus poemas

– inúteis como a própria vida

que carrego – casco endurecido

de um jabuti sem rumo –

per una selva oscura



tantas vezes penso e repenso

quão toscos os meus poemas

– calhaus que as águas levam

para os poços profundos

das cachoeiras

de minhas frustrações



então a certeza

– se a vida me empobreceu

também meus versos

ficaram mais pobres

[não que fossem nobres]

reflexo do que tenho vivido

consequência inevitável

– o que é mais provável –

de tudo que tenho sofrido



8.8.2025

(Ilustração: escultura de Bruno Catalano - Les Voyageurs; 

Marselha, França)










Nenhum comentário:

Postar um comentário