6 de mar. de 2025

machadiana

 





alieno-me em mim mesmo

ao reler Machado de Assis

e saio pelas ruas a esmo

tentando entender esses brasis



esses brasis que do Rio de Janeiro

sonha o escritor em cada linha



– não há ali o mulato inzoneiro

nem os indígenas que comeram o Sardinha

mas uma sociedade complicada

que descia dos morros para as ruas

[– às vezes irrequieta – às vezes calada]

a viver as desventuras suas

num cadinho de gentes e de cores

que se constroem como nação

uma nova nação de bravos

agora já sem escravos

mas ainda com muitos senhores

a borrar o seu brasão

com as asas de um ou outro urubu



mas Machado só tem mesmo dissabores

ao mostrar a si mesmo pelos olhos de Capitu



25.11.2024

(Ilustração: foto da internet sem indicação de autoria)

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