que não se estranhe o penumbrismo de meus versos
a culpa de visões tenebrosas está no mundo em que vivo
no mundo em que vivemos todos
violência – esse o paradigma do ser humano
violência que se normatiza
violência que se matiza
em cores boreais
desde o beco escuro da maldade de cada um
a fincar no peito do outro o punhal de prata
a cravar no peito do outro a bala de prata
até a ponta do míssil teleguiado que erra a trajetória
e mata e mata e mata
com gélida indiferença
e com toda a oculta crença
de quem de longe o lançou
o presente de adultos e velhos
e o futuro de crianças e jovens
não há sol
não há luz
não há dó
nos olhos atrás dos tronos
nos olhos atrás das cadeiras giratórias
o véu negro da ganância
cobre os tapetes macios
dos escritórios envidraçados
os tronos giram e giram as cadeiras
dos que mandam e dos que executam
e giram as armas que eles acionam
com o simples apertar de uma tecla vermelha
o presidente
o primeiro-ministro
o ditador de plantão
os generais de estrela na testa
todos eles se solidarizam
com o penumbrismo da dor
todos eles olham o mundo
e veem auroras boreais
apenas auroras boreais
coloridas e belas auroras boreais
no brilho das bombas que lhes dão poder
jogam com corpos destroçados
o xadrez da mais valia
e cada morto conta
conta muitos dólares a mais
na sua conta bancária
se há penumbrismo nos meus versos
que se calem os monstros
que se antolhem os generais
que se acorrentem os donos da guerra
que fechem atrás das grades
todos os assassinos
todos os violentadores
todos os torturadores
[e também todos os poluidores]
e então da penumbra de meus versos
hão de brotar arco-íris
e hão de dançar sobre a terra
as verdadeiras auroras boreais
e quando puder enfim contemplar
essas verdadeiras auroras boreais
e quando passada enfim a tormenta
puder contemplar esses arco-íris da paz
eu calarei para sempre
eu calarei para nunca mais
o penumbrismo de meus versos
28.3.2025
(Ilustração: Antoine Caron -1521-1599 -: Les Funérailles de l'Amour)
Ouça esse texto na voz do autor, ISAIAS EDSON SIDNEY, nestes endereços:
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