26 de abr. de 2025

penumbrismo

 



que não se estranhe o penumbrismo de meus versos

a culpa de visões tenebrosas está no mundo em que vivo

no mundo em que vivemos todos



violência – esse o paradigma do ser humano

violência que se normatiza

violência que se matiza

em cores boreais

desde o beco escuro da maldade de cada um

a fincar no peito do outro o punhal de prata

a cravar no peito do outro a bala de prata

até a ponta do míssil teleguiado que erra a trajetória

e mata e mata e mata

com gélida indiferença

e com toda a oculta crença

de quem de longe o lançou

o presente de adultos e velhos

e o futuro de crianças e jovens



não há sol

não há luz

não há dó

nos olhos atrás dos tronos

nos olhos atrás das cadeiras giratórias

o véu negro da ganância

cobre os tapetes macios

dos escritórios envidraçados



os tronos giram e giram as cadeiras

dos que mandam e dos que executam

e giram as armas que eles acionam

com o simples apertar de uma tecla vermelha



o presidente

o primeiro-ministro

o ditador de plantão

os generais de estrela na testa

todos eles se solidarizam

com o penumbrismo da dor

todos eles olham o mundo

e veem auroras boreais

apenas auroras boreais

coloridas e belas auroras boreais

no brilho das bombas que lhes dão poder



jogam com corpos destroçados

o xadrez da mais valia

e cada morto conta

conta muitos dólares a mais

na sua conta bancária



se há penumbrismo nos meus versos

que se calem os monstros

que se antolhem os generais

que se acorrentem os donos da guerra

que fechem atrás das grades

todos os assassinos

todos os violentadores

todos os torturadores

[e também todos os poluidores]



e então da penumbra de meus versos

hão de brotar arco-íris

e hão de dançar sobre a terra

as verdadeiras auroras boreais



e quando puder enfim contemplar

essas verdadeiras auroras boreais

e quando passada enfim a tormenta

puder contemplar esses arco-íris da paz

eu calarei para sempre

eu calarei para nunca mais

o penumbrismo de meus versos





28.3.2025

(Ilustração: Antoine Caron -1521-1599 -: Les Funérailles de l'Amour)




Ouça esse texto na voz do autor, ISAIAS EDSON SIDNEY, nestes endereços:

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