23 de abr. de 2025

pensamentos


meu pensamento – pássaro esfogueado

que bate as asas por universos desconhecidos

e tece no espaço o desejo ansiado

de que encontre um dia os enredos entretecidos

nos meandros de minhas sinapses partidas



- não me importa que não leiam o que escrevo

meus versos são pães enegrecidos

queimados em fornos ultra aquecidos

depois de amassados e acrescidos do levedo

que flui de miasmas de minha mente



importa apenas que os imagine e crie

como biscoitos que se dissolvem na terra

e não que cada um deles inicie

dentro de mim a derradeira guerra



sou um deus decaído no mais profundo

de todos os infernos já imaginados

corro morro abaixo como cão imundo

que não se livra das sarnas do mundo

nem das feridas das estradas

gemendo e ladrando a cada espinho

que rasga minhas carnes insufladas

de ausências de paz e de carinho


vejo nas telas toda a minha vida

mas não encontro dentro de mim mesmo

qualquer expressão comovida

que não jogue comigo um jogo a esmo


tudo quanto penso me deixa cada vez mais perdido

como se tivesse sido sempre este velho fodido



[como se o que sempre fui fosse este velho fodido]




22.12.2024

(Ilustração: Charles Mellin - caritas romana, c.1628)

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