depois dos oitenta as velhas
quando gozam
soltam de entre as pernas
maritacas gritadeiras
que não se calam
no meio das nuvens
no meio da tarde
não recordam as velhas
depois dos oitenta
os gritos de zombarias
nem estrondos de curtos-circuitos
sabem muito bem
que houve rosários de lágrimas
e sermões
enviesados de senões
provindos dos púlpitos podres
a recortar em pétalas
de rosas vermelhas
cada gozo
que um dia não se mascarara
seus espantos se espalham
agora
pelas nuvens de lençóis rompidos
e mal cerzidos
mundo afora
na espera do que nunca virá
mas são doces os olhos
das velhas de mais de oitenta
olhos que se esbugalham
quando gozam
sessenta e tantos anos depois
de leitos desfeitos
por machos imperfeitos
navegaram por demais
pelas ondas falsas
de falsas seitas
sofrendo como virgens desfeitas
na barra de velhos altares
e as velhas que eram direitas
assumem de vez seus direitos
lançam aos ares
contra todos os lares
até mesmo pelos bares
por todos os leitos
gozos não mais contrafeitos
gozos agora libertos
gritos de maritacas
pelos ares despertos
não mais de bruacas
[esse apelido tão chulo]
na tarde que arde
saíram do casulo
e encaram toda as tretas
- são as novas borboletas
a voar
sem medo de gozar
13.2.2025
(Ilustração: Ada Breedveld)
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