11 de jul. de 2025

as velhas

 




depois dos oitenta as velhas

quando gozam

soltam de entre as pernas

maritacas gritadeiras

que não se calam

no meio das nuvens

no meio da tarde



não recordam as velhas

depois dos oitenta

os gritos de zombarias

nem estrondos de curtos-circuitos



sabem muito bem

que houve rosários de lágrimas

e sermões

enviesados de senões

provindos dos púlpitos podres

a recortar em pétalas

de rosas vermelhas

cada gozo

que um dia não se mascarara



seus espantos se espalham

agora

pelas nuvens de lençóis rompidos

e mal cerzidos

mundo afora

na espera do que nunca virá



mas são doces os olhos

das velhas de mais de oitenta

olhos que se esbugalham

quando gozam

sessenta e tantos anos depois

de leitos desfeitos

por machos imperfeitos



navegaram por demais

pelas ondas falsas

de falsas seitas

sofrendo como virgens desfeitas

na barra de velhos altares



e as velhas que eram direitas

assumem de vez seus direitos



lançam aos ares

contra todos os lares

até mesmo pelos bares

por todos os leitos

gozos não mais contrafeitos

gozos agora libertos

gritos de maritacas

pelos ares despertos

não mais de bruacas

[esse apelido tão chulo]

na tarde que arde

saíram do casulo

e encaram toda as tretas

- são as novas borboletas

a voar

sem medo de gozar



13.2.2025

(Ilustração: Ada Breedveld)

Nenhum comentário:

Postar um comentário