armação de dois finos bambus cruzados
papel de seda colorido
o grude de polvilho e água
logo depois a pipa iluminava a tarde
– e éramos felizes
meia de náilon velha
uma bola de papel amassado o recheio
enrola – enrola – enrola e costura
não vale o gol – frango do goleiro
- e éramos felizes
bolinhas de gude coloridas
o calcanhar em rodopio formatava
no chão macio o tamanho da birosca
ganhava-se o jogo no poder do polegar
– e éramos felizes
bandidos e mocinhos
escondidos atrás dos ciprestes
tiro para cá – tiro para lá – mãos ao alto
morto o cowboy – mocinho ou bandido
– e éramos felizes
cabeça no muro - olhos fechados
a contagem...um... dois... três... cem...
no pique-esconde o desafio
bobeou batia cabeça no muro
– e éramos felizes
um dia a pipa se enroscou no fio de luz
e se desmanchou à chuva ao vento ao sol
um dia a bola de meia se esgarçou
virou trapo virou pó virou nada
um dia as bolinhas de gude
eram vidro – se quebraram
um dia bandidos e mocinhos
viraram mocinhos – todos eles
um dia a morena de olhos noturnos
não foi nem a última a ser encontrada
– e não éramos mais felizes
10.5.2025
(Ilustração: Érika Cardoso - o menino de Recife)
Nenhum comentário:
Postar um comentário