25 de jul. de 2025

bagatelas


 



armação de dois finos bambus cruzados

papel de seda colorido

o grude de polvilho e água

logo depois a pipa iluminava a tarde

 e éramos felizes



meia de náilon velha

uma bola de papel amassado o recheio

enrola – enrola – enrola e costura

não vale o gol – frango do goleiro

- e éramos felizes



bolinhas de gude coloridas

o calcanhar em rodopio formatava

no chão macio o tamanho da birosca

ganhava-se o jogo no poder do polegar

 e éramos felizes



bandidos e mocinhos

escondidos atrás dos ciprestes

tiro para cá – tiro para lá  mãos ao alto

morto o cowboy – mocinho ou bandido

 e éramos felizes



cabeça no muro - olhos fechados

a contagem...um... dois... três... cem...

no pique-esconde o desafio

bobeou batia cabeça no muro

 e éramos felizes



um dia a pipa se enroscou no fio de luz

e se desmanchou à chuva ao vento ao sol



um dia a bola de meia se esgarçou

virou trapo virou pó virou nada



um dia as bolinhas de gude

eram vidro  se quebraram



um dia bandidos e mocinhos

viraram mocinhos  todos eles



um dia a morena de olhos noturnos

não foi nem a última a ser encontrada



 e não éramos mais felizes





10.5.2025

(Ilustração: Érika Cardoso - o menino de Recife)





Nenhum comentário:

Postar um comentário