(Kay Sage)
folhas sopradas pelos ventos
meus sentimentos vagueiam pelas calçadas imundas
comendo restos de comida roubados aos cães
rastejando esmolas nas escadarias do poder
vestindo trapos encontrados nas lixeiras
folhas sopradas pelos ventos
meus pensamentos desnorteiam-se pelas estradas inúteis
peregrinos coxos a trautear entre cidades mortas
defenestrados de mim mesmo como párias
vestidos apenas de ócio e vergonha
não os renego todavia nem aos sentimentos nem aos pensamentos
são eles os que travam no meu peito a ânsia de morte
são eles que repetem a cada momento o meu estranho viver
caminho com eles como caminharia com os lobos
estranhando entre nós mesmos as nossas angústias
competindo às vezes por um naco de lucidez
sem eles não viveria e eles sem mim são essência morta
por isso caminhamos entre o lodo e o espaço vazio
na vida que nos é possível viver e conviver
como náufragos ou mendigos a depender do alheio olhar
folhas sim sopradas pelos ventos frios das madrugadas
mas aconchegados inelutavelmente únicos e indivisíveis
15.1.2017
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