(Gustave Courbet - Retrato de Baudelaire. 1848-1849)
leio
leio até me arderem os olhos
tudo quanto me cai às mãos
leio
e vivo cada página do que leio
como se a vida palpitasse
em cada palavra de cada livro
viajo
e minha cabeça entranha-se em memórias
que não são as minhas mas que
no momento em que as estou lendo
passam a ser também as lembranças e a vida que ansiei por viver
ler e ler sempre
é a forma que achou minha mente
de não enlouquecer no marasmo da existência
marasmo que não escolhi
marasmo a que sou apenas obrigado a viver
como vicissitudes improváveis que se abateram
sobre a estrada que percorria antes bem melhor do que agora
e então eu leio e fujo
trânsfuga de mim preso às páginas numeradas
de uma imensa biblioteca que aos poucos
se constrói dentro de mim
crescendo e fechando como um círculo
que ainda não sei se virtuoso ou vicioso
que o prazer infinito de ler não oprima o meu julgamento
e deixe que eu tenha os momentos de felicidade
necessários à minha saúde mental
1/4/2017
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