22 de jun. de 2025

A arte

 




Os ditadores morrem

- a arte fica.

Os imbecis viram pó

- a arte fica.



Tolos e ignorantes pisoteiam a pintura.

Estúpidos donos do mundo rasgam a poesia.

Parvos e surdos aos pássaros prendem os compositores.

Os de mentes de muletas atropelam os dançarinos.

Os que vomitam bile e sangue fecham os teatros.

Por quê? Porque os artistas dizem o que eles

- os ignorantes, os ditadores, os donos da consciência humana –

não querem ver, não querem ouvir, não querem saber.



Inútil: os artistas sobem às nuvens e beijam os pássaros.



Os poetas gargalham e seus versos flutuam

por mares nunca dantes navegados

enquanto os estúpidos se afogam no oceano da própria merda.

Aos pés das pirâmides ou sob os arcos dos desmandos,

atores e atrizes rasgam as roupas de palhaços

e sua nudez acende os sóis de todas as galáxias.

O pintor pinta a origem do mundo no ventre da amada

e expõe ao escárnio o grito dos conservadores.

Flautas, flautins, pianos, violinos e violas, violoncelos

e toda a orquestra geme e se ergue ao gesto do maestro

para se imiscuir nos ouvidos dos surdos aos pássaros.



Liberdade é o grito da arte, de todas as artes.



Onde haja um olho que ainda enxerga,

um ouvido que ainda ouça,

um braço que se erga e resista,

uns pés que pisoteiem o chão duro,

uma voz que encarne um poema

e mãos que aplaudam e toquem as nuvens,

aí estará o artista,

para jogar a última pá de terra

no túmulo dos ditadores;

aí estará a arte,

para irritar os tolos conservadores

que odeiam a arte, todas as artes,

porque – meus amigos e amigas –

a arte, ah arte!

A arte liberta!





27.3.2024

(Ilustração: Sandro Botticelli: retrato de Dante)



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