Os ditadores morrem
- a arte fica.
Os imbecis viram pó
- a arte fica.
Tolos e ignorantes pisoteiam a pintura.
Estúpidos donos do mundo rasgam a poesia.
Parvos e surdos aos pássaros prendem os compositores.
Os de mentes de muletas atropelam os dançarinos.
Os que vomitam bile e sangue fecham os teatros.
Por quê? Porque os artistas dizem o que eles
- os ignorantes, os ditadores, os donos da consciência humana –
não querem ver, não querem ouvir, não querem saber.
Inútil: os artistas sobem às nuvens e beijam os pássaros.
Os poetas gargalham e seus versos flutuam
por mares nunca dantes navegados
enquanto os estúpidos se afogam no oceano da própria merda.
Aos pés das pirâmides ou sob os arcos dos desmandos,
atores e atrizes rasgam as roupas de palhaços
e sua nudez acende os sóis de todas as galáxias.
O pintor pinta a origem do mundo no ventre da amada
e expõe ao escárnio o grito dos conservadores.
Flautas, flautins, pianos, violinos e violas, violoncelos
e toda a orquestra geme e se ergue ao gesto do maestro
para se imiscuir nos ouvidos dos surdos aos pássaros.
Liberdade é o grito da arte, de todas as artes.
Onde haja um olho que ainda enxerga,
um ouvido que ainda ouça,
um braço que se erga e resista,
uns pés que pisoteiem o chão duro,
uma voz que encarne um poema
e mãos que aplaudam e toquem as nuvens,
aí estará o artista,
para jogar a última pá de terra
no túmulo dos ditadores;
aí estará a arte,
para irritar os tolos conservadores
que odeiam a arte, todas as artes,
porque – meus amigos e amigas –
a arte, ah arte!
A arte liberta!
27.3.2024
(Ilustração: Sandro Botticelli: retrato de Dante)
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