25 de jun. de 2025

a mortalha




que se recolham os trapos

de todas as bandeiras

que nos campos de batalha

se estraçalharam

ao longo dos tempos



com esses trapos nauseabundos

construa-se uma imensa mortalha

que envolva os sonhos perdidos

na insensatez das guerras



mas há tantas vidas perdidas

a serem cobertas

por essa mortalha

que nunca os trapos juntados

cobrirão essas vidas todas

– ainda que seja um pedaço de cada corpo –

– ainda que seja um pequeno sonho destruído -



então que os milhares e milhares de artesãos

que a esse insano trabalho se lancem

fechem narizes

esqueçam pudores

e tenham a suprema coragem

de unir aos panos sujos de sangue

a pele – ainda que esturricada –

dos milhões que morreram

pela vontade estúpida

de reis e governantes

guiados apenas pela busca

de vitórias tão falsas e absurdas

quanto todas as batalhas

que promoveram

ao longo dos séculos

assim completando a mortalha

essa imensa mortalha

de angústia e dor



e agora o desejo supremo

– que o sangue derramado ao longo da história

não consagre jamais nenhuma vitória

testemunhe apenas a derrota da racionalidade

que devia orientar as ações da humanidade



7.6.2024


(Ilustração: Hiroshima Peace Memorial Museum - Onogi Akira)

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