que se recolham os trapos
de todas as bandeiras
que nos campos de batalha
se estraçalharam
ao longo dos tempos
com esses trapos nauseabundos
construa-se uma imensa mortalha
que envolva os sonhos perdidos
na insensatez das guerras
mas há tantas vidas perdidas
a serem cobertas
por essa mortalha
que nunca os trapos juntados
cobrirão essas vidas todas
– ainda que seja um pedaço de cada corpo –
– ainda que seja um pequeno sonho destruído -
então que os milhares e milhares de artesãos
que a esse insano trabalho se lancem
fechem narizes
esqueçam pudores
e tenham a suprema coragem
de unir aos panos sujos de sangue
a pele – ainda que esturricada –
dos milhões que morreram
pela vontade estúpida
de reis e governantes
guiados apenas pela busca
de vitórias tão falsas e absurdas
quanto todas as batalhas
que promoveram
ao longo dos séculos
assim completando a mortalha
essa imensa mortalha
de angústia e dor
e agora o desejo supremo
– que o sangue derramado ao longo da história
não consagre jamais nenhuma vitória
testemunhe apenas a derrota da racionalidade
que devia orientar as ações da humanidade
7.6.2024
(Ilustração: Hiroshima Peace Memorial Museum - Onogi Akira)
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