refugio-me na ficção
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encontro ali a humanidade
sem a premência do compromisso
erguidos os olhos
aquela dor ou aquela maldade
não contaminam meu sangue
como as dores e maldades
das páginas sangrentas dos matutinos
ou na voz compungida ou irônica
de âncoras da tevê com seu riso de plástico
gravata azul e cabelos arrumados de bonecas infláveis
a humanidade imaginada
compunge-me e confrange-me
mas não me destrói por dentro
as tramoias e os arrepdimentos
de um assassino russo
os lamentos de um corvo absurdo
os passos trêfegos da família Severina
as vinganças articuladas e empreendidas
a desesperança e a vitória diante da natureza
ou de condições adversas em planteta distante
tudo isso me comove e me revela
o ser que se diz humano
mas repito que
ao desviar os olhos são momentos que ficam
e não aporrinham o meu dia a dia
esse o refúgio desse despenhadeiro
de ódios
de lutas
de guerras
de bombas
de miséria
de mistificação
de exploração
e tantas outras desgraças
a que se submete o ser que se diz dono da Terra
mas que não é dono de seu próprio destino
abraçado a feitiços e demônios e deuses
que lhe corroem a vida por dentro e por fora
5.1.2018
(Ilustração: Francois Xavier Bricard -1881-1935 -; A Young Boy)
(Ilustração: Francois Xavier Bricard -1881-1935 -; A Young Boy)
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