(Pablo Picasso; absinthe drinker)
Sabe a solidão? Aquela coisa
que nos paralisa quando
bate no peito
e nos deixa no chão
como se de repente desfeito
em nada, em dor, em tristeza,
arrebenta o pobre coração
e com destreza destrói
cada fibra, cada veia? Pois, é:
a solidão!
Fria, invisível,
insensível como as cordas
de um violão,
um violão esqecido num canto,
coberto de folhas mortas...
É, essa mesma, a solidão
que você conhece e despreza,
aquela que frequenta os versos
de poetas e de candidatos a poetas,
como toda musa que se preza,
é ela, sim, que aquece
a chama de nossa derrisão...
A velha, boa - e maldita -
solidão: o estar mais só
do que num túmulo,
aquela que não tem dó
de nossas possibilidades de angústia,
e aperta na garganta um nó
que não desata,
musa discreta e barata
a tingir de cinzas o dossel
sob cujas franjas nos acolhemos,
a solidão, sim, a solidão,
essa mulher que nos toma
em braços e enlaços e embaraços
para jogar-nos numa espiral
de vento, de pó, de nada...
essa a solidão de que falo,
essa a solidão que a todos maltrata...
tenho-a em alta conta, sim,
mas não dentro de mim,
que convivo muito bem comigo
e não a convido nunca
para o meu festim...
(26.7.2012; 30.7.2012;
13.10.2012)
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