29 de nov. de 2017

sonho





(Pablo Picasso)



uma noite qualquer de verão quando tilintavam estrelas no brejo

e os grilos cantavam sob as tábuas podres do assoalho da sala

o sonho subiu à sua cama e deitou com você sob o fino lençol

arrepiou suas costelas tocou o seu sexo e alisou seus cabelos

assenhoreou-se de seus desejos mais intensos e olhou bem fundo

no fundo de seus olhos que refletiam a febre de seu coração

aspirou o ar de seus pulmões e possuiu o seu encanto

sem lhe pedir licença e sem ao menos tentar um gesto de conciliação



você fechou as pálpebras e entregou-se a ele num assentimento

de cordas de violino ao arco que domina e as faz vibrar

sem nada pedir que não fosse o sossego infindo de ver estrelas

sob as mangueiras o verme rastejava em busca de sua língua

e os pássaros bicavam frutas azedas dentro de ninhos escuros

as vozes da noite vinham em arremedos de contágios e angústias

e o sonho arrebentou todos os segredos que você guardava

e num gesto supremo de prazer e pranto você nunca mais

desenhou estrelas em capas de livros nem desejou o fruto maduro

que o pássaro afoito deixou cair sobre seu leito vazio


12.9.2017


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