(Pablo Picasso)
uma noite qualquer de verão quando tilintavam estrelas no brejo
e os grilos cantavam sob as tábuas podres do assoalho da sala
o sonho subiu à sua cama e deitou com você sob o fino lençol
arrepiou suas costelas tocou o seu sexo e alisou seus cabelos
assenhoreou-se de seus desejos mais intensos e olhou bem fundo
no fundo de seus olhos que refletiam a febre de seu coração
aspirou o ar de seus pulmões e possuiu o seu encanto
sem lhe pedir licença e sem ao menos tentar um gesto de conciliação
você fechou as pálpebras e entregou-se a ele num assentimento
de cordas de violino ao arco que domina e as faz vibrar
sem nada pedir que não fosse o sossego infindo de ver estrelas
sob as mangueiras o verme rastejava em busca de sua língua
e os pássaros bicavam frutas azedas dentro de ninhos escuros
as vozes da noite vinham em arremedos de contágios e angústias
e o sonho arrebentou todos os segredos que você guardava
e num gesto supremo de prazer e pranto você nunca mais
desenhou estrelas em capas de livros nem desejou o fruto maduro
que o pássaro afoito deixou cair sobre seu leito vazio
12.9.2017
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