(Almeida Júnior)
Quero um lugar para viver,
onde eu não acorde ouvindo
latidos de cães,
freadas de automóveis,
brigas na rua,
discussões de vizinhos,
estampidos de tiros,
gritos desesperados,
motores zumbindo
sobre minha cabeça.
Quero um lugar para viver,
onde eu possa acordar
ouvindo o canto do bem-te-vi,
porque só os pássaros entendem
os amanheceres
de quem os viveu todos
e, agora, quer apenas
abrir os olhos e sonhar...
Quero um lugar para viver,
onde eu possa acordar
ouvindo no rádio
um concerto de Brahms,
porque só a música encanta os dias
de quem já os teve todos
sob a sola do sapato
e agora quer apenas abrir os olhos
e deixá-los dançar...
Quero um lugar para viver,
onde eu possa acordar
com sorriso de neto
a fazer folia na cama,
porque só as crianças entendem
o despertar de quem viveu
quase tudo o que a vida lhe deu
e enchem de esperança
o breve futuro
de quem espera o anoitecer.
Quero, enfim, um lugar para viver
o resto dos dias que tenho na terra,
com a calma certeza de que o mundo,
embora trágico, embora difícil,
entendeu os passos derradeiros
do - agora - lento, muito lento,
caminheiro em busca de paz.
sp/30.5.2012; 13.10.2012
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