à luz baça da manhã de inverno
a cidade aos poucos sai de seu torpor noturno
o motorista mal dormido para o táxi à porta
do prédio e dá boa noite ao último passageiro
que lhe responde com um bom dia
o pedreiro levanta a gola da camisa
e toma na padaria o copo de pinga para esquentar o dia
a secretária de saia curta e blazer azul
faz sinal para o sonolento motorista do ônibus suburbano
que aos poucos vai colhendo passageiros
e chega lotado ao centro da cidade
à luz baça da manhã de inverno
o ascensorista cochila um pouco e espera
o primeiro passageiro
que entra sisudo com pasta executiva em baixo do braço
conta os números até o último andar de onde expedirá ordens
que decidirão a vida de milhares de pessoas
o jornaleiro coloca manchetes à vista na esperança
de vender mais que uma dúzia do jornal do dia
a padaria aos poucos se enche de gente que quer o pão na chapa
com manteiga e um pingado claro para um escuro para outro
boates apagam luzes e prostitutas frustradas recolhem a noite
ou o que dela sobrou em suas bolsinhas de brilho falso
à luz baça da manhã de inverno
a cidade que não dorme acorda da letargia da longa noite
e o sol aos poucos ilumina sua desesperança de todos os dias
24.8.2017
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