6 de out. de 2017

manhã de inverno







à luz baça da manhã de inverno

a cidade aos poucos sai de seu torpor noturno

o motorista mal dormido para o táxi à porta

do prédio e dá boa noite ao último passageiro

que lhe responde com um bom dia

o pedreiro levanta a gola da camisa

e toma na padaria o copo de pinga para esquentar o dia

a secretária de saia curta e blazer azul

faz sinal para o sonolento motorista do ônibus suburbano

que aos poucos vai colhendo passageiros

e chega lotado ao centro da cidade

à luz baça da manhã de inverno

o ascensorista cochila um pouco e espera 

o primeiro passageiro

que entra sisudo com pasta executiva em baixo do braço

conta os números até o último andar de onde expedirá ordens

que decidirão a vida de milhares de pessoas

o jornaleiro coloca manchetes à vista na esperança

de vender mais que uma dúzia do jornal do dia

a padaria aos poucos se enche de gente que quer o pão na chapa

com manteiga e um pingado claro para um escuro para outro

boates apagam luzes e prostitutas frustradas recolhem a noite

ou o que dela sobrou em suas bolsinhas de brilho falso

à luz baça da manhã de inverno

a cidade que não dorme acorda da letargia da longa noite

e o sol aos poucos ilumina sua desesperança de todos os dias



24.8.2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário