7 de dez. de 2017

mendiga poesia




(Konstantin Somov)





nem musa tem a minha poesia

vestida com trapos que encontra no varal

nenhuma pintura atavia

seus olhos sem maresia e sem sal

olha a vida como ela é

caminha pela areia descalça e mendiga

e mesmo se lhe doem os cascalhos no pé

não espera quem lhe diga

qual o caminho a seguir

vai em frente como qualquer caminheiro

lambendo nas pernas cada ferida

que lhe cobra o caminho cada espinheiro

nunca se dá por vencida

a minha poesia

renasce a cada dia

e caminha sozinha

trêfega e mais empobrecida

e se antes mais sofria

agora caminha mais embevecida

pela estrada sem rumo e sem norte

vencendo em cada passo

um desejo de dor e de morte

23.11.2017






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