20 de dez. de 2017

tempo de vida


(Honoré Daumier; Three Amateur Musicians)




não tenho o vigor da juventude

tenho a força da palavra

quero apenas da vida mais trinta anos

para escrever a minha obra

e dizer de forma madura o que eu penso

não a afoiteza dos trinta anos de vida

quando nada havia a dizer ainda

embora tantos o tenham dito e escrito

de forma até mesmo irresponsável

criando paradigmas falsos de verdades

de verdades impolutas em que se acreditou

pensando ser a verdade final da vida

quando a vida a verdadeira vida ainda

não havia sido vivida

sendo esta a vida que se esconde

no cérebro falsamente envelhecido

de seres que sobrevivem

aos oitenta ou noventa ou cem anos

deixando murchar seus cérebros ao passar do tempo

quando na verdade há um novo espectro

a pulsar nas células vividas e a rejuvenescê-las

se houver a boa vontade de escutar novas águas

a destilarem veneno em suas ligações nervosas

não uma nova versão de juventude

mas a têmpera agora mais acesa

a observar com olhos de lince as regiões mais profundas

daquilo que se chama a alma humana

e nesses olhos não há véus de moralismos falsos

nem escárnios de vidas por viver

há apenas o desafio de não deixar morrer

a eterna estrela de novos amanheceres

sob a óptica enfim esclarecida

de espantos novos e novos desafios

não deve haver na mente velha

senão pensamentos novos e novos encantos

a compensar o passo trôpego e as feições cansadas

se declina a visão e os músculos não respondem

enganam-se e perdem-se aqueles que deixam morrer seus neurônios

cultive-se o velho espanto da vida que a vida

de sempre haverá nas palavras de quem

uma jornada completou mas ainda existe um tempo

que homem algum um dia sonhou


14.5.2017







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