(Honoré Daumier; Three Amateur Musicians)
não tenho o vigor da juventude
tenho a força da palavra
quero apenas da vida mais trinta anos
para escrever a minha obra
e dizer de forma madura o que eu penso
não a afoiteza dos trinta anos de vida
quando nada havia a dizer ainda
embora tantos o tenham dito e escrito
de forma até mesmo irresponsável
criando paradigmas falsos de verdades
de verdades impolutas em que se acreditou
pensando ser a verdade final da vida
quando a vida a verdadeira vida ainda
não havia sido vivida
sendo esta a vida que se esconde
no cérebro falsamente envelhecido
de seres que sobrevivem
aos oitenta ou noventa ou cem anos
deixando murchar seus cérebros ao passar do tempo
quando na verdade há um novo espectro
a pulsar nas células vividas e a rejuvenescê-las
se houver a boa vontade de escutar novas águas
a destilarem veneno em suas ligações nervosas
não uma nova versão de juventude
mas a têmpera agora mais acesa
a observar com olhos de lince as regiões mais profundas
daquilo que se chama a alma humana
e nesses olhos não há véus de moralismos falsos
nem escárnios de vidas por viver
há apenas o desafio de não deixar morrer
a eterna estrela de novos amanheceres
sob a óptica enfim esclarecida
de espantos novos e novos desafios
não deve haver na mente velha
senão pensamentos novos e novos encantos
a compensar o passo trôpego e as feições cansadas
se declina a visão e os músculos não respondem
enganam-se e perdem-se aqueles que deixam morrer seus neurônios
cultive-se o velho espanto da vida que a vida
de sempre haverá nas palavras de quem
uma jornada completou mas ainda existe um tempo
que homem algum um dia sonhou
14.5.2017
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