(Albert Marquet -French, 1875-1947)
sei o que que escrevo
não sei o que você lê
minhas palavras são como seixos no rio
estão no poema para serem roladas
polidas
levadas pela correnteza das metáforas
meu verso pede palavras simples
dou-lhe palavras simples
meu verso pede estruturas góticas
dou-lhe pontudas arestas de templos mágicos
meu verso faz parte de um poema estranho
vivo o estranhamento tanto quanto você
meu verso compõe o que nem eu mesmo ouso
deixo a seu critério o espaço entre o sonho e som
sei ou às vezes nem mesmo sei
o que escrevo
não lhe dou a chave do cofre
porque já ela está perdida há muito
pelos meandros de meu desespero
sei o mundo que está dentro de mim
não sei o mundo que está em você
leia apenas os meus versos sem atavios
navegue em si mesmo e não em mim
sei às vezes o que escrevo
e escrevo às vezes o que sei
não só da vida mas de mim mesmo
o que é muito pouco para ser cobrado
os meus seixos rolados pelos rios da poesia
nem sempre têm a poesia que apregoam
paciência
segue a trilha até o rio e mergulhemos nele
ao encontrar-me à margem pescando palavras
somos todos pedras rolantes da vida
em águas que não nos matam a sede
nem peixes nem plantas
apenas pedras polidas pelas águas da vida
11.8.207
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