21 de dez. de 2017

o tempo

(Leonid Afremov - When Dreams Come True)



há dois tempos, o tempo pequeno

que dura o tempo de um piscar de olhos,

da queda de uma folha,

do breve alongar de uma nota musical,

de uma paixão inescrutável,

de um grito de prazer ou de dor,



esse tempo não conta, é o tempo vivido,

o tempo que nos conduz ao centro de nós mesmos



mas há outro tempo,

esse, mais terrível,

consome nossa pele,

amolece nossos ossos,

escurece nossos olhos,

delonga nossos passos,

é o tempo dos meses que passam,

dos números que marcam

na folhinha da parede

cada ano que perdemos

num atroz e decisivo anseio,

esse o tempo que nos leva



escolha o seu tempo, meu amigo,

escolha o seu tempo, minha amiga,

e fiquem nele, não olhem para trás, deixem

que cada um faça o seu trabalho silencioso,

pois o tempo pequeno é também o tempo do gigante

e o tempo do gigante coabita em nosso peito

em cada batida de nosso coração

inexoravelmente

inexorável



não lutem o mau combate contra o tempo

seja ele qual for:

nosso destino de mortais traz ao tempo

o prazer de nos ignorar



porque, afinal, tudo o que vivemos,

tudo o que sofremos ou amamos

tem o dedo do vento

e o dedo do vento é apenas o lento

e oportuno destino

de cada lágrima que nossos olhos

produzirem

inexorável

inexoravelmente

como o tempo a nos roer

como o tempo

o tempo

tempo


25.7.2013




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