(Francisco Brennand)
encantou-se em minha garganta um verso
e ali ficou
não tinha muito mais para onde ir encantado que estava
às vezes subia ao meu cérebro e cabriolava por lá
outras vezes descia ao meu coração e me machucava um pouco
e até mesmo ousou descer até o ventre provocando arrepios
mas encantado que estava encantado continuou
nunca quis fazer parte de nenhum poema
não era a dele ser apenas uma linha dentro de um poema
era um verso encantado e porque tinha encantos
tinha também pudores e manias que todo verso assim cultiva
nunca pude tirá-lo de dentro de mim
não sei o que ele continha de beleza ou de filosofia
se era uma mensagem para a humanidade
ou apenas um simples galanteio de amor a uma desconhecida
podia ser que fosse apenas a imitação do canto de um passarinho
ou o consolo do choro de uma criança
podia ser que nem fosse nada disso e apenas se escondesse
porque era um verso simples um verso bobo que um dia
teve pretensões de tornar célebre um poeta desesperado
digo-lhe apenas e tão somente isto hoje
passados tantos invernos e sonhados tantos sonhos
encantou-se o verso em minha garganta
e ali ficou
13.11.2017
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