(Giorgio de Chirico)
a pedra da mesa absorve o vinho tinto derramado
o linho branco do guardanapo guarda a mancha
de sangue os talheres e pratos da mesa reverberam
como as teclas desafinadas de um piano numa
sala vazia de concerto depois da função da noite
o sobrevivente da batalha que não ocorreu não
sopra o cano da arma nem a gira nos dedos para
colocá-la de volta ao coldre como os cowboys de
antigos filmes de faroeste e apenas estatela os
olhos para o cavalo vermelho que ele encilha na
sua imaginação e some na treva da noite como o
fantasma de um cemitério desolado no alto de
uma montanha povoada de abutres negros
o corpo fica sob a mesa e sobre ele pingam os
restos de vinho tinto de um amor para sempre
congelado num campo de mistério e desatino
13.6.2017
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