os amores do passado
não ficam no passado
quando parece que deles não nos lembramos mais
esquecemos – oh! ingênuos – que os enterramos em covas rasas
julgando que fossem – esses amores – defuntos normais
mas eles lá ficaram como adormecidas brasas
brasas que a qualquer sopro vão de novo nos queimar
brasas que vão subir em labaredas a qualquer vento
e tirar de novo do nosso peito todo o ar
não importa quanto tenha passado de tempo
não importa quanto deles nos tenhamos esquecido
– há sempre uma pontinha de não esquecimento
num gesto que nos afronta ou num beijo prometido
e lá se vão pensamentos e imaginação com novas asas
a fazer-nos sofrer de novo aquilo que foi tão sofrido
ah! os amores do passado
não queríamos tê-los lembrado
mas são agulhas no nosso peito enterradas
de novo remexidas e de novo cutucadas
um só ensejo de alegria nos trazem esses amores redivivos
– se doem – e doem muito – provam no entanto que estamos vivos
1.5.2025
(Ilustração: Leonid Afremov - Kiss on the Bench)