30 de jun. de 2011

novos poemas do cotidiano - 6

(Alfred Kubin)



na festa de teus anos


na festa de teus anos o barro
das estrelas os pulsares
de mentes dementes o berro
nos ânus de prostitutas putas
ladram molossos aos ares
esgares
mágicos transportam do escarro
estúpidas forças brutas
na festa o teu cu
cagado de urubu
marca em cada prega a marca que te leva
tanto em pranto quanto em porra
escorres e morres escrota
em festa teu rabo
no meio um nabo
e tu te melas no melado e no mel
golfadas de porra e fel
expeles a pele de glandes
prepúcios de flandres
gonococos e gonoloucos
em farras e fanfarras
bates e bates punhetas a mil
o gozo em teus olhos
o gozo em teu sexo
o nexo o nexo
onde o nexo
de tudo
esta
festa
tu.

26 de jun. de 2011

novos poemas do cotidiano - 5




Abrasa-me o peito a ausência






Abrasa-me o peito a ausência
de um amor que não sei que fim terá;
a angústia que me toma o coração
faz de mim refém
de uma dor que não tem cura.




Choro, sofro, atormento-me
como se fosse cada minuto
um século inteiro de dor e paixão.




Toda e qualquer possibilidade
de trazer à razão
esse sentimento infame,
que me afunda em agonia e dor
faz que eu me torne dentro de mim
cada vez mais um louco a sofrer inutilmente.




Perco-me em devaneios fúteis,
para encontrar no peito em brasa
uma gota que fosse de orvalho doce
para suavizar a eterna agonia.




Sinto-me tolo, o mais tolo de todos os homens,
sinto-me louco, o mais louco de todos os homens,
sinto-me, assim, a perverter
a própria racionalidade de amar:
não mais amo, apenas,
destruo-me por dentro e passo a ter
apenas um mero sentimento de vida,
vida que vem do fato de amar.




23.6.97

22 de jun. de 2011

novos poemas do cotidiano - 4

(Alfred Kubin)


Olho para fora de mim


Olho para fora de mim,
em busca do mundo
e só encontro a ti.
Em cada nuvem.
em cada folha,
em cada gota
de chuva,
em cada oceano,
ou no céu infinito,
tu estás como deusa pagã
inaugurando o sol,
abrilhantando estrelas,
esmaecendo a lua,
aquecendo os mares,
escalando horizontes...
tu, ó inconsútil deusa,
feiticeira do tempo
a tecer em minhas retinas
bordados loucos de vidas nuas,
tu, ó vaga espuma de mundos inalcançáveis,
a trazer-me ao peito
esperanças inúteis...

Olho para dentro de mim
em busca de mundos
que, louco, construí como refúgios
de minha alma atormentada
e só vejo a ti,
ó deusa maldita de meus sonhos loucos,
a roubar de mim toda a seiva
de possíveis vidas que não viverei...
e, louca, fazes de meu peito
o espanto mudo de protestos inúteis,
tu, só tu, carnívora planta
a deglutir
em lentas doses
o coração que bate apenas
quando te vê...
tu, inverossímil deusa,
tu, mil vezes maldita,
tu, mãe de todas as eras,
tu, irmã da dor e do espanto,
cortesã de todos os repastos,
virgem de todos os altares,
tu, mil vezes bendita!

20.6.97

20 de jun. de 2011

novos poemas do cotidiano - 3

(Alfred Kubin)


Colho de ti


Colho de ti
o gelo mais frio.
Do fundo de grotas,
do grito mais animal,
da onda mais trágica,
do vento mais tosco,
colho em ti
não mais que o tempo
de sempre chorar.


Busco por ti
em cada folha,
em cada gota,
em cada grão,
em cada esperma
que escorra em tua boca,
em cada gozo
que não me deste,
em cada riso.
Em cada encanto
de doce segundo,
mato o tempo
e busco por ti.
Contigo eu sonho
deusa de gelados gestos,
a caçar em campos
de densa névoa
a carne doce
de meu sombrio amor.
Eu sonho
contigo sempre eu sonho,
e enalteço em ti
o fogo ancestral
das forças abissais.
Vulcão de lava fria,
teces em mim
rios largos de dor e prazer,
ó imaculada vênus
de pele em fogo,
ó deusa-mater
de todos os meus desejos,
eterna neve
em meus píncaros entronizada,
branca,
branca nuvem do meu destino:
gozo em ti
o vulcão de gelo
e morro em fogo
por buscar em ti
o eterno anseio de meu corpo frágil.


17.6.97

3 de jun. de 2011

novos poemas do cotidiano - 2

(Alfred Kubin)


Que estranho amor




Que estranho amor
é esse?
Amor que mais cresce
quanto mais sofre?

Que não estranha
quando
em fogo brando
mais se torce
de agonia
o pobre coração?

Que nunca apaga
a chama
e quanto mais ama
mais aberta a chaga
expõe a paixão?

Que nunca briga
e ressente
quando a intriga
só desmente
tudo quanto abriga
da paixão?

Que estranho amor!
Deixa-me assim
prostrado em dor
sofrendo em mim
o que em mim ressente
e paga apenas o horror
de ver um dia
o que nunca devia:
explodir em flor
o pobre coração!

10/6/97