(Alfred Kubin)
Colho de ti
Colho de ti
o gelo mais frio.
Do fundo de grotas,
do grito mais animal,
da onda mais trágica,
do vento mais tosco,
colho em ti
não mais que o tempo
de sempre chorar.
Busco por ti
em cada folha,
em cada gota,
em cada grão,
em cada esperma
que escorra em tua boca,
em cada gozo
que não me deste,
em cada riso.
Em cada encanto
de doce segundo,
mato o tempo
e busco por ti.
Contigo eu sonho
deusa de gelados gestos,
a caçar em campos
de densa névoa
a carne doce
de meu sombrio amor.
Eu sonho
contigo sempre eu sonho,
e enalteço em ti
o fogo ancestral
das forças abissais.
Vulcão de lava fria,
teces em mim
rios largos de dor e prazer,
ó imaculada vênus
de pele em fogo,
ó deusa-mater
de todos os meus desejos,
eterna neve
em meus píncaros entronizada,
branca,
branca nuvem do meu destino:
gozo em ti
o vulcão de gelo
e morro em fogo
por buscar em ti
o eterno anseio de meu corpo frágil.
17.6.97
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