16 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 15


(Paul Delvaux)





Estranhas as lendas que falam

de caminhos paralelos.

Estranhos os caminhos que seguem

para um encontro nunca realizado.

Veredas retas ou curvas,

em suaves meandros como os rios.

Ladeiras, íngremes ladeiras,

passando por inóspitas montanhas.

Vão-se assim os caminhos

lado a lado, gêmeos univitelinos,

parelhos, paralelos, para o páramo

onde, quem sabe? - enfim, no vazio,

se entrelacem num abraço de morte.

FIM

15 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 14


(Paul Delvaux)






Faço-me um favor

em amar-te.

Fazes-me um favor

em negar-te.

Somos ambos loucos

mas não o bastante

para nos amarmos.

14 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 13


(Paul Delvaux)







Comprometo-me contigo

não mais tentar roubar o teu beijo.

Comprometo-me contigo

deixar-te seguir o próprio caminho.

Comprometo-me contigo

não mais contar-te de meu amor,

não mais magoar-te com minha dor,

não mais olhar-te com olhos de paixão.

Comprometo-me contigo

tudo isso e o que mais quiseres.


Meu horóscopo nunca te disse

que sou teimoso como uma mula?


Tudo quanto te disse,

tudo quanto comprometi contigo

não impede que eu prossiga

tentando fazer-te minha, um dia.


13 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 12


(Paul Delvaux)





No Banco onde bancas

a princesa,

todos pensam que eu te quero.

No Banco onde tranças

teias e jogos

no xadrez do amor,

todos pensam que eu te gosto.

No Banco onde beijas

a todos como amigos

todos pensam que tesão tenho por ti.

Mas no banco onde sofro

ninguém jamais pensou

na loucura do meu amor.

Que coisa mais cafona essa

de loucura de amor!

Mas como chamar

a dor, a saudade, a vontade,

o tesão

por ti, minha princesa?

12 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 11


(Paul Delvaux)





Não virás,

não telegrafarás,

não escreverás,

não telefonarás,

não enviarás

um fax.

Um fax faz de mim

um tolo

em esperar por ti.

11 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 10


(Paul Delvaux)






Toca o telefone.

Não és tu.

Toca o telefone.

Não és tu.

Toca o telefone.

Não és tu.

Toca o telefone.

Não és tu.

Toca o telefone.

Uma camisa de força

impede-me de dizer-te

alô!

10 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 09


(Paul Delvaux)





Pergunto ao meu computador

se me amas.

Máquina racional, sensata,

sugere-me repetir a pergunta.

Não entendeu-me o tolo.

Se não sabe uma pergunta idiota

como esta

responder,

como confiar-lhe mistérios da trigonometria?

Entanto, sabe tudo o infeliz

das artes de Newton ou de Einstein.

Se não sabe se me amas

nada sabe o computador.

9 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 08


(Paul Delvaux)


Deste-me um só beijo,

furtivo,

mas acendeste-me o desejo,

lascivo.

Partiste e levaste teu riso

com certeza.

Deixaste, no entanto, em meu peito

só tristeza.


Encontros e desencontros.

Inúteis como a própria vida.

Amo-te e torno-me tolo.

Não posso amar-te e torno-me

ainda mais tolo

na loucura da vida.

Desprezo as fórmulas antigas

de cantar em versos a coita do amor.

Mas repito em palavras desencontradas

toda a angústia de não seres minha.

Não sei, portanto, se é tolo o amor

ou se são idiotas todos os poetas.

Se de um beijo faço versos,

os versos tonam-se beijos

que repito a cada instante

para ter-te sem que o saibas.

Ah! quanta bobagem cometemos

nós os poetas, os amantes, os loucos,

para, em pleno fim de século,

cantar o desencontro, a dor,

a tristeza, um único beijo!

8 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 07


(Paul Delvaux)





Olho ao redor e não te vejo.

Olho dentro de mim e não me reconheço:

teus olhos tomaram meu ser,

não sei se sou eu vivendo em ti

ou se és tu palpitando em mim.

7 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 06


(Paul Delvaux)





Tu és do alvorecer a estrela.

Eu, no Ocidente em fogo, me ponho.

Mesmo distante a vê-la,

entreteço na futura noite o meu sonho.

6 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 05


(Paul Delvaux)


Olho pela janela

a verde amoreira:

casais de pardais

em colóquios de amor.

Tudo babaquice.

Da natureza os arroubos

não comovem meu coração.

Há em mim uma realidade

maior que todos os casais

de pardais:

- a dor do amor e da distância.

5 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 04


(Paul Delvaux)



Desafoga-me a dor

ao escrever para ti

versos que nunca lerás.

Não importa: da saudade

que sinto só tu sentirás,

embora não saibas.

4 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 03


(Paul Delvaux)





Do fogo que em mim arde

és a chama mais bela.

Sei que te amo

e me consumo inutilmente

na chama de teus cabelos.

Olho-te apenas. E vejo

e sinto num rápido beijo

que tens mais juízo que eu.

2 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 02


(Paul Delvaux)




Chega-te um pouco a mim,

olha-me com teus olhos grandes

e num lampejo de luz

dá-me um pouco do teu cheiro.

Não precisas dar-me

esperança. Não a tenho,

nunca a teremos.

Mas dá-me apenas um pouco

do sonho que trazes

em teus olhos.

1 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 01


(Paul Delvaux)


Esfuma-se em minha mente tua imagem

por artes de tanto que penso em ti.

Busco-te em cada canto escuro

do meu pensamento e só encontro

o desencontro de nossas vidas.

E quanto mais se apaga em minha mente

tua imagem de onde sobressaem teus olhos claros

mais me afundo na saudade e na dor.

Amo-te em meu coração, em meus sentidos,

mesmo sabendo não poder amar-te

em meu pensamento. Não importa:

és anjo de paz em momentos de tédio,

princesa encantada dos meus castelos.