31 de mar. de 2018

Oração 9










não, não há escrava nem senhor,

quando, abraçados e nus, de joelhos,

nossos sexos trocam fluidos de amor





(Ilustração: Aroldo Bonzagni)

30 de mar. de 2018

Oração 8










preparas-te para a foda

de joelhos sobre a cama:

tua bunda apaga o sol

e teu ventre vira chama






(Ilustração: Jean-Jacques Lequeu)




29 de mar. de 2018

Oração 7










de joelhos sobre minha cara

minha língua encontra

a pérola mais rara 






(Ilustração: Paul-Émile Bécat)





28 de mar. de 2018

Oração 6








ajoelhas-te sobre meu ventre

e ganhas o mundo

com minha pica bem no fundo




(Ilustração: Paul-Émile Bécat)


27 de mar. de 2018

Oração 5










de joelhos tu estás,

de joelhos também estou,

quando te como, assim, por trás





(Ilustração: Heinrich Lossow)




26 de mar. de 2018

Oração 4








teu corpo entre meus joelhos

minha pica entre teus peitos:

fodo-te de todos os jeitos 






(Ilustração: Thomas Rowlandson)




25 de mar. de 2018

Oração 3









quero apenas teu gemido

enquanto deixo o teu grelo

muito bem lambido 




(Ilustração: Paul-Émille Bécat)




24 de mar. de 2018

Oração 2








de joelhos ela fica

a olhar-me, enquanto sua boca

abocanha minha pica 





(Ilustração: gravura erótica francesa antiga, 
autor não identificado)





23 de mar. de 2018

Oração 1








de joelhos

com minha língua

rego teus pentelhos 





(Ilustração: Harukawa)



22 de mar. de 2018

onde?






- sabe o conde?

- que conde?

- aquele que se esconde?

- esconde onde?

- ora, onde o sol se esconde...

- ainda não sei mesmo onde...



(e, mais uma vez, eu como seu cu)




(Ilustração: arte erótica japonesa)


21 de mar. de 2018

muito bom








muito bom, quando

escorrego assim, chupando

teu grelo, tua fenda, e nego

que gozo na renda de tua

bunda nua, na funda caverna

que esconde – oh! onde? onde? -

no segredo do teu espasmo,

o enredo do teu orgasmo 








(lustração: Paul-Émile Bécat)


 

20 de mar. de 2018

Livro









abro tuas pernas

como abro um livro de aventuras;

não, expresso-me mal, minha querida,

não são apenas aventuras

o que busco entre tuas coxas nuas,

mas, sim, muito mais, busco a ventura,

a suprema ventura do teu gozo. 




(Ilustração: Luc Lafnet - 1899-1939 - au bord du lit)

19 de mar. de 2018

Liquidez








chupas-me

e me olhas,

chupo-te

e te molhas;

e também:

chupo-te

e me olhas,

chupas-me

e te molhas. 





(Ilustração: Konstantin Somov)



18 de mar. de 2018

Língua










No amor,

quem

tem

língua

não morre

à míngua. 





(Ilustração: arte erótica chinesa)



17 de mar. de 2018

Jabuticabas











Tu, quando acabas,

tem teu gozo o gosto

de jabuticabas.



(Ilustração: Paul-Émile Bécat) 







16 de mar. de 2018

Intimidade









Quero a intimidade da carne

sem nenhum pudor.

Por isso, teu pequeno botão

molho com muito charme

até abri-lo na mais bela flor. 








(Ilustração: Jules Pascin)



15 de mar. de 2018

haiku









alguns chamam kaikai

eu chamo haiku:

porque tu dizes ai

quando como o teu cu 






(Ilustração: arte erótica chinesa)



14 de mar. de 2018

Fogo









Quero-te chama,

mesmo que molhes

minha cama. 







(Ilustração: Tomer Hanuka - Israeli illustrator)




13 de mar. de 2018

Flor de maio









Abriste-me teu corpo,

com todo o teu perfume,

com todo o teu orvalho,

por uma noite apenas,

apenas por uma noite.







(Ilustração: Betty Dodson, 1929, American)



12 de mar. de 2018

eu amo sua vagina










eu amo sua vagina

e você sabe o quanto



quando enfio a cabeça entre suas pernas

e minha língua descobre dobras e desdobra-se

em buscar sumos e cheiros

em vales e encostas a penetrar mais fundo

no fundo do seu útero





eu amo sua vagina

e você sabe o quanto



quando vem toda crespa como de hera coberta

ou mesmo em fase de lisa lua crescente

faço com ela a cada dia o altar

onde deposito os meus estertores



eu amo sua vagina

e você sabe o quanto



quando em noites de rios vermelhos

ou em tarde de lentas cachoeiras

mundo líquido de ouro e prata

eu amo sua vagina e você sabe o quanto



e mais do que tudo na vida eu posso dizer

o quanto eu amo a sua vagina

e mais do que amar sua vagina

eu amo profundamente a sua boceta

8.10.2015
23.10.2015



(Ilustração: Jacqueline Secor)




11 de mar. de 2018

Eterno








Para que no me olvides,

disseste.

E enfiaste as unhas

em minhas costas.

Não gritei.

Não reclamei.

Apenas te olhei.

E, como se fosse possível

esquecer-te,

deixei,

com minha língua,

um gosto amargo

em tua boca.

E gozei. 








(Ilustração: Paul-Émile Bécat)







10 de mar. de 2018

Dolência









Silêncio no quarto:

depois que me chupas,

sinto-me farto. 





(Ilustração: Betty Dodson; 1929, American)

9 de mar. de 2018

depois







agora você me diz:

depois que você goza,

fica quieta ou fica prosa?

ou só um pouco feliz? 









(Ilustração: Jules Pascin)










8 de mar. de 2018

Atriz








Na cama-palco em que atuas

fazes-me tu mais feliz

quando tuas ancas nuas

abrem-se nesta disputa

entre teus encantos de atriz

e o nobre destino de puta. 






(Ilustração: Erich von Gotha)




7 de mar. de 2018

Apelo












A teu apelo,

não nego fogo:

chupo teu grelo,

colho teu gozo.





(Ilustração: Léon Courbouleix -1887 – 1972, French)

6 de mar. de 2018

Afterglow









Sabe aquele instante

depois do gozo, quando

estás entre a vigília e o sono,

nem dormida, nem acordada,

no lusco-fusco da consciência?

Pois, é aí, meu amor, que eu

tenho o maior tesão por ti:

é quando, então, entre tuas

coxas nuas me ajoelho, e

colho e sugo o sumo

da tua vulva-lua ainda

úmida o sêmen que,

com tanto júbilo acolheste.

Sou, nesse momento,

o mais feliz dos homens,

meu amor semiadormecido. 








(Ilustração: Pierre-Auguste Renoir)



5 de mar. de 2018

NOSSAS MANHÃS











Ò manhãs em que beijei 

o doce mel de teu ventre róseo! 

Ó manhãs em que te levei 

do sonho áureo ao gozo louco! 

Ó manhãs em que te acordei 

para saciar meu desejo com teu tesão! 

Ó manhãs em que o sol brilhou mais forte 

para iluminar teu seio arfante em doce gozo! 

Ó manhãs em que tuas nádegas 

eram o convite a escaladas mágicas! 

Ó manhãs em que tudo o que eu queria 

era continuar dormindo e sonhar contigo!




(Ilustração: Francesco Hayez)



3 de mar. de 2018

segredo






ponho em ti os olhos e és minha

quando te despes e ao banho te entregas

lânguida

os cabelos ao dorso caídos falsamente dourados

à tua bunda os desejos de cavalgadas

por vales e montanhas na garupa como endiabrados pôneis

toda minha não sei



sei que és neste momento o esplendor dos campos de trigo

ou talvez o espanto do sol se pondo por ver-te nua

que outros desejos de candaules me atormentam

a comparar-te a beleza a outras maravilhas que não sei

louco de anseios por ti não te compartilharei a nudez

enquanto espero que venhas como rainha da tarde que cai

e não deixes que te vejam outros olhos o esplendor das curvas

que minhas esperanças te aqueçam as entranhas

e meu reinado em ti permaneça o segredo de nós dois




20.2.2018 






(Ilusstração: Jean-Léon Gérôme - Le roi Candaules -1859) 





2 de mar. de 2018

endívias







faz tempo já

vários anos talvez

uma amiga me convidou

a jantar em sua casa

e serviu-me como entrada

uma folha de sabor diferente

uma folha verde e côncava

recheada de creme

são endívias – ela disse

provei-as desconfiado

o sabor tomou-me a língua

na primeira mordida

endívias delícias

delícias endívias

encantei-me com essa folha

em formato de tronco oco

piroga de índio

saveiro sem vento

embarquei em seu sabor

e nunca mais

nunca mais

deixei de saborear sempre que posso

a deliciosa endívia

que aprendi a comer com minha amiga há muito tempo já



essa mesma amiga

faz tempo já

tantos anos que nem me lembro quantos

um dia apresentou-me uma amiga

e na noite de festa depois de algumas bebidas

incentivou-a a acompanhar-me até minha casa

essa amiga esguia e bela e tão distante

provei-a também desconfiado

encantei-me com seu sexo de endívias

embarquei em seu sabor em seu gozo

e nunca mais

nunca mais

deixei de saborear seu corpo e seu sexo

que descobri através de um convite dessa amiga há muito tempo já



endívias e sexo

sexo e endívias

quando saboreio as folhas das endívias eu navego

por prazeres de mares de sal e espuma

e penso em você

minha doce amante

e enquanto saboreio suas endívias à minha língua desfolhadas

em sais e sumos e gozos

penso nas verdes endívias e nos seus sabores

associadas para sempre

sua deliciosa boceta e as endívias

as deliciosas endívias e sua boceta

que a ambas saboreio com o prazer sempre da primeira vez

endívias e você

você e endívias

você minha delícia

delícias endívias

folhas que desfolho com a língua em águas

para navegar por prazeres de mares sempre revoltos

como-as a ambas ainda e sempre

graças a essa nossa amiga que um dia nos apresentou

há muito tempo já que nem me lembro quanto

a mim as endívias

você à minha língua






3.5.2016



(Ilustração: Jacqueline Secor)

1 de mar. de 2018

Resgato da memória um poema perdido






para tentar lembrar os dias passados:

cidades da minha infância,

nomes estranhos na poeira da memória

- Lavras, Três Pontas, Três Corações.

Rios que as banharam

continuam não os mesmos

dos tempos idos

e vividos.

Os passos descalços do menino de rua

perderam-se no asfalto da grande cidade.

Os ecos dos cantos de seus pássaros

são hoje cantigas que não relembro.

O cheiro do mato, seus morros tão verdes

são o tesouro escondido no fundo da dor.

Saudade!

As casas baixas de janelas para a rua,

os becos escondidos, os frutos proibidos,

fundem-se todos em massa disforme.

Nem a saudade que sinto é a mesma saudade

dos tempos em que ainda me permitia

cantar os loucos suspiros

ao luar.

E enquanto escrevo (preso às palavras),

como dói este poema inútil!

Como dói no fundo de meu ser!

Antes deixara perdidas na bruma

as cidades amigas/amargas

de dias felizes que não revisitarei.

Cidades de minha infância,

acordaram suas lembranças

ao poeta que sonhava

ou sobrevivia

ao pesadelo sempre igual dos dias cinza.

O poeta que, de tanto levar porrada na vida,

já se sentia liberto

de uma infância talvez não vivida.

E assim, de repente, surge funda uma saudade.

E assim, de repente, emergem das brumas,

ruas, becos, vales e montes

perdidos como perdida uma vida,

doendo fundo nas veias,

resgatando sonhos e esperanças.

E as sensações sentidas,

mais do que as vividas,

antes presas, amordaçadas,

rompem diques

e arrastam a memória cansada

por caminhos esquecidos.

E a realidade que explode à volta

faz-se grão e pó e nada.

Fantasmas,

loucos dias de um remoto tempo,

pássaros negros num fundo azul,

riachos podres em vales perdidos,

tudo o que um dia julgara sepulto,

vive, revive, revolta

o momento eterno da dor.

Cidades da minha infância,

não são nem um retrato na parede.

São apenas a dor esquecida

e um dia lembrada

em momentos de loucura e depressão.

E qualquer som, imagem ou perfume

que as tragam de volta

são apenas sensações da memória.



S.P. 16.3.83