2 de mar. de 2018

endívias







faz tempo já

vários anos talvez

uma amiga me convidou

a jantar em sua casa

e serviu-me como entrada

uma folha de sabor diferente

uma folha verde e côncava

recheada de creme

são endívias – ela disse

provei-as desconfiado

o sabor tomou-me a língua

na primeira mordida

endívias delícias

delícias endívias

encantei-me com essa folha

em formato de tronco oco

piroga de índio

saveiro sem vento

embarquei em seu sabor

e nunca mais

nunca mais

deixei de saborear sempre que posso

a deliciosa endívia

que aprendi a comer com minha amiga há muito tempo já



essa mesma amiga

faz tempo já

tantos anos que nem me lembro quantos

um dia apresentou-me uma amiga

e na noite de festa depois de algumas bebidas

incentivou-a a acompanhar-me até minha casa

essa amiga esguia e bela e tão distante

provei-a também desconfiado

encantei-me com seu sexo de endívias

embarquei em seu sabor em seu gozo

e nunca mais

nunca mais

deixei de saborear seu corpo e seu sexo

que descobri através de um convite dessa amiga há muito tempo já



endívias e sexo

sexo e endívias

quando saboreio as folhas das endívias eu navego

por prazeres de mares de sal e espuma

e penso em você

minha doce amante

e enquanto saboreio suas endívias à minha língua desfolhadas

em sais e sumos e gozos

penso nas verdes endívias e nos seus sabores

associadas para sempre

sua deliciosa boceta e as endívias

as deliciosas endívias e sua boceta

que a ambas saboreio com o prazer sempre da primeira vez

endívias e você

você e endívias

você minha delícia

delícias endívias

folhas que desfolho com a língua em águas

para navegar por prazeres de mares sempre revoltos

como-as a ambas ainda e sempre

graças a essa nossa amiga que um dia nos apresentou

há muito tempo já que nem me lembro quanto

a mim as endívias

você à minha língua






3.5.2016



(Ilustração: Jacqueline Secor)

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