faz tempo já
vários anos talvez
uma amiga me convidou
a jantar em sua casa
e serviu-me como entrada
uma folha de sabor diferente
uma folha verde e côncava
recheada de creme
são endívias – ela disse
provei-as desconfiado
o sabor tomou-me a língua
na primeira mordida
endívias delícias
delícias endívias
encantei-me com essa folha
em formato de tronco oco
piroga de índio
saveiro sem vento
embarquei em seu sabor
e nunca mais
nunca mais
deixei de saborear sempre que posso
a deliciosa endívia
que aprendi a comer com minha amiga há muito tempo já
essa mesma amiga
faz tempo já
tantos anos que nem me lembro quantos
um dia apresentou-me uma amiga
e na noite de festa depois de algumas bebidas
incentivou-a a acompanhar-me até minha casa
essa amiga esguia e bela e tão distante
provei-a também desconfiado
encantei-me com seu sexo de endívias
embarquei em seu sabor em seu gozo
e nunca mais
nunca mais
deixei de saborear seu corpo e seu sexo
que descobri através de um convite dessa amiga há muito tempo já
endívias e sexo
sexo e endívias
quando saboreio as folhas das endívias eu navego
por prazeres de mares de sal e espuma
e penso em você
minha doce amante
e enquanto saboreio suas endívias à minha língua desfolhadas
em sais e sumos e gozos
penso nas verdes endívias e nos seus sabores
associadas para sempre
sua deliciosa boceta e as endívias
as deliciosas endívias e sua boceta
que a ambas saboreio com o prazer sempre da primeira vez
endívias e você
você e endívias
você minha delícia
delícias endívias
folhas que desfolho com a língua em águas
para navegar por prazeres de mares sempre revoltos
como-as a ambas ainda e sempre
graças a essa nossa amiga que um dia nos apresentou
há muito tempo já que nem me lembro quanto
a mim as endívias
você à minha língua
3.5.2016
(Ilustração: Jacqueline Secor)
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