9 de jan. de 2010

CANÇÕES DE AMOR E SAUDADE, À MODA ANTIGA - 08


(Paul Delvaux)


Deste-me um só beijo,

furtivo,

mas acendeste-me o desejo,

lascivo.

Partiste e levaste teu riso

com certeza.

Deixaste, no entanto, em meu peito

só tristeza.


Encontros e desencontros.

Inúteis como a própria vida.

Amo-te e torno-me tolo.

Não posso amar-te e torno-me

ainda mais tolo

na loucura da vida.

Desprezo as fórmulas antigas

de cantar em versos a coita do amor.

Mas repito em palavras desencontradas

toda a angústia de não seres minha.

Não sei, portanto, se é tolo o amor

ou se são idiotas todos os poetas.

Se de um beijo faço versos,

os versos tonam-se beijos

que repito a cada instante

para ter-te sem que o saibas.

Ah! quanta bobagem cometemos

nós os poetas, os amantes, os loucos,

para, em pleno fim de século,

cantar o desencontro, a dor,

a tristeza, um único beijo!

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