8 de jan. de 2015

quando se empala um príncipe




(Alfred Kubin) 




Na estaca em que se empala um príncipe


devia-se poder escrever


que por todos os séculos os sinos bimbalhem


que por todos os tempos


os pianos dobrem canções de amor


canções de eternos amores


à impossibilidade de que aquele príncipe


ali empalado em carne e osso


fique para sempre ali empalado


e não espalhe mais o seu nauseabundo cheiro


pelo mundo de flores que se descortina, afinal.






Que se empalem, pois, todos os príncipes.


Que se glorifiquem sempre, afinal, todos


os príncipes empalados e empalhados


como eternas múmias e eternos espelhos


de tempos que não virão jamais


sob a batuta enferrujada de velhos reis


que não se cumprirão.


E assim seja!


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015