meu pai morreu quando eu tinha seis anos
numa idade em que nem sabia o que era a morte
e só muito mais tarde descobri
que era uma ausência aquela morte
apenas ausência
que meu pai morto andava pela cidade
com suas duas pernas de gente viva
e a vida que me dera
multiplicava-se em outros filhos
que não eu
(o filho esquecido de um pai morto que procria)
e essa ausência foi a sombra
que marcou cada passo da minha vida
até que um dia muito mais tarde
meu pai ausente morreu de verdade
senti apenas – baixando os olhos úmidos de uma só lágrima –
que aquela sombra que seguia meus passos
seria agora uma sombra à frente dos meus olhos
e eu nunca mais iria conseguir chorar
nem quando sofri muito pela morte de minha mãe
13.12.2021
(Ilustrção: Mia Mäkilä)
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