11 de dez. de 2025

lua morta

 




quando os

lábios que

beijavam

outros lábios

beijam agora

o vento

e fecham-se ao

silêncio de

uma noite sem luar

bate no peito um

frêmito

de passos ocos

de fantasmas que

caminham por

estradas de

pedras toscas

sem olhar

para trás

[proibido o retorno]


só o abismo e a solidão do abismo

e então

onde

tudo que era

cor e luz

para os

beijos

de lábios rubros

vira o beco onde

se agrupam mais

e mais

os fantasmas

- abantesmas tresloucados

a rugir à lua

a quebrar o

ruído dos

passos ocos


nos dentes

de fera

o desejo morto

insepulto

que

não

devia

nunca

ter

ressurgido

ao grunhido

do vento

à luz

da lua

para sempre


morta morta morta



28.11.2025

(Ilustração: Odile de Schwilgué: lune et mars)



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