quero olhar para frente
o passado me chama
e me devora
olho minha pegada na lama
das trilhas que pisei
vejo em cada espinho
o retrato de momentos
decantados na secura dos ventos
penso que ainda não logrei
ser o que desejava
como intento de uma vida
esquecido na margem da estrada
crio metáforas de estranhas linhagens
para desculpar o desencanto
do que hoje me tornei
esbarro então nas distantes paisagens
de minhas esperanças inalcançáveis
para gritar o grito rouco dos fugitivos
e o estranhamento da vida a que sobrevivi
semeio apenas os poemas
que não escrevi
e os restos das folhas secas
e das flores murchas que pisei
para aspirar os ares de tempos
que um dia julguei serem felizes