quando as águas sobem
levam tudo que os pobres não têm
será que um dia
as águas vão subir
e bater na bunda dos ricos
quando as águas subirem
e baterem na bunda dos ricos
e levarem uma pequena parte
daquilo que os ricos têm
o que será que os ricos vão fazer
quando as águas sobem e levam
tudo aquilo que os pobres têm
o que fazem os pobres
depois de sentar e chorar
todos nós sabemos
depois que as águas baixam
deixando ainda mais pobres os pobres
de quem elas – as águas – levaram tudo
os pobres fazem mutirões
recolhem donativos
reconstroem suas pobres casas
reconstroem seus pobres barracos
e esperam a próxima cheia
[não têm os pobres outra opção]
e os ricos – o que fazem os ricos
quando sentem que as águas
subiram e bateram em suas bundas
levando parte – pequena parte –
de tudo quanto possuíam
[coisa que – convenhamos –
é muito difícil de acontecer]
ah os ricos! – os ricos tiram
seus traseiros gordos
das cadeiras de chefe
das poltronas de veludo
pegam seus iates gordos
navegam pelas águas gordas
com sorrisos de escárnio
bebericam uísque doze anos
dançam
festejam
e pescam dourados engordados
pelos restos que vieram
das cheias de todos os pobres
[não têm os ricos outra opção]
8.11.2024
(Ilustração: Cássia Brizolla - a enchente na Vila Pantanal)
Ouça este poema na voz do autor, Isaias Edson Sidney, nestes endereços:
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