quero às vezes contemplar um lago sereno
quero às vezes navegar por um rio caudaloso
quero às vezes perder-me numa floresta tropical
quero às vezes flanar pelas ruas da grande cidade
isso é minha alma peregrina dentro de mim
(eu que não acredito em alma)
a pedir que me aventure por lugares que não conheço
a pedir que saia de minha casca de ovo – a minha casa –
e me liberte de mim mesmo pelos ares do tempo
pelos ares das estrelas ou pelos caminhos das montanhas etéreas
e me perca de vez nos escaninhos de um planeta inabitado
mesmo que esse planeta esteja girando a milhões de anos luz
mas vivo dentro de uma bola de gude e sou apenas
aquele que olha o tempo e sabe que ele só me faz sofrer
30.11.2023
(Ilustração: escultura de Anish Kapoor, Dismemberment)
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