6 de out. de 2025

surreal


se um dia eu desparecer

em São Paulo

não procurem meu corpo

no Rio Tietê

porque jamais me jogaria

nas águas fétidas

do Rio Tietê

e essa é a única realidade

que me permito compartilhar

com meus contemporâneos

 

se eu desaparecer

em São Paulo

não procurem meu corpo

num formigueiro qualquer

numa rua do Jabaquara

 

se eu um dia desaparecer em São Paulo

talvez – e esse talvez expressa

todas as dúvidas do mundo –

eu não esteja na verdade

flutuando em nuvens cumulus-nimbos

sentado numa cadeira de palhinha

ou balançando numa rede de dormir nordestina

– às gargalhadas

 

porque a essa altura da minha vida

o mais provável é que eu seja

apenas um anjo torto

um poeta maluco

inventado num verso sem pé nem cabeça

que eu recrio neste poema surreal

 

 

10.12.2024

(Ilustração: Patrice Coppée - fourmis)

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