se um dia eu desparecer
em São Paulo
não procurem meu corpo
no Rio Tietê
porque jamais me jogaria
nas águas fétidas
do Rio Tietê
e essa é a única realidade
que me permito compartilhar
com meus contemporâneos
se eu desaparecer
em São Paulo
não procurem meu corpo
num formigueiro qualquer
numa rua do Jabaquara
se eu um dia desaparecer em São Paulo
talvez – e esse talvez expressa
todas as dúvidas do mundo –
eu não esteja na verdade
flutuando em nuvens cumulus-nimbos
sentado numa cadeira de palhinha
ou balançando numa rede de dormir nordestina
– às gargalhadas
porque a essa altura da minha vida
o mais provável é que eu seja
apenas um anjo torto
um poeta maluco
inventado num verso sem pé nem cabeça
que eu recrio neste poema surreal
10.12.2024
(Ilustração: Patrice Coppée - fourmis)
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