26 de dez. de 2025

dezembrismo





quisera ser um gato para enrodilhar-me

num canto qualquer da minha casa

e dormir dezoito horas por dia

para livrar-me desse dezembrismo

que me açula em tempos de luzes

essas luzes que obnubilam meus olhos

e me dão vontade de dormir como um gato



felino e felinianamente dormir e esquecer

esquecer essa porra toda - o vermelho

desse ridículo gordo papai-noel-santa-claus

ou que nome dão a esse velhinho idiota



bloquear os pedidos de boas-festas

tão falsos quanto são falsos todos os presépios

a comemorar um nascimento que não houve

numa falsa manjedoura e uma estrela falsa

três reis ridículos – de onde? – a cortejar

um menino que devia ser pobre

que devia trazer a palavra da revolução

e essa palavra se perdeu pelos caminhos

da estupidez de religiões de gelo e gado



esse menino - não representa mais as crianças

que as guerras matam hoje mundo afora



quisera tanto dormir e ronronar como um gato

para não olhar com meu parco olhar felino

as caras burguesas de falsa felicidade

que duram o espoucar dos fogos de artifício



ah como eu gostaria de me enroscar

em mim mesmo e desenrolar em sonhos

meu dezembrismo em tapetes de fogo

que queimassem a estupidez humana

nesses tempos de falsas festas e falsas luzes

quando a humanidade está mergulhada

nas trevas da estupidez e das guerras inúteis

com é inútil também [e como eu o sei]

o meu protesto neste mais que inútil poema



15.12.2025

(Agnolo Bronzino - Sacra famiglia Panciatichi or Madonna Panciatichi)

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