quisera ser um gato para enrodilhar-me
num canto qualquer da minha casa
e dormir dezoito horas por dia
para livrar-me desse dezembrismo
que me açula em tempos de luzes
essas luzes que obnubilam meus olhos
e me dão vontade de dormir como um gato
felino e felinianamente dormir e esquecer
esquecer essa porra toda - o vermelho
desse ridículo gordo papai-noel-santa-claus
ou que nome dão a esse velhinho idiota
bloquear os pedidos de boas-festas
tão falsos quanto são falsos todos os presépios
a comemorar um nascimento que não houve
numa falsa manjedoura e uma estrela falsa
três reis ridículos – de onde? – a cortejar
um menino que devia ser pobre
que devia trazer a palavra da revolução
e essa palavra se perdeu pelos caminhos
da estupidez de religiões de gelo e gado
esse menino - não representa mais as crianças
que as guerras matam hoje mundo afora
quisera tanto dormir e ronronar como um gato
para não olhar com meu parco olhar felino
as caras burguesas de falsa felicidade
que duram o espoucar dos fogos de artifício
ah como eu gostaria de me enroscar
em mim mesmo e desenrolar em sonhos
meu dezembrismo em tapetes de fogo
que queimassem a estupidez humana
nesses tempos de falsas festas e falsas luzes
quando a humanidade está mergulhada
nas trevas da estupidez e das guerras inúteis
com é inútil também [e como eu o sei]
o meu protesto neste mais que inútil poema
15.12.2025
(Agnolo Bronzino - Sacra famiglia Panciatichi or Madonna Panciatichi)


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