(Leda Catunda)
21. falação final,
por último, nesse canto
meio sem eira nem beira,
vou buscar inspiração
no lençol bem urdido
que fazia a minha avó:
de retalhos de cetim,
bem ligados com o brim
e o brim entretecido
com fitas de gorgorão,
pra formar o sete-estrelo,
ou outra figura igual,
não tem plano, não tem máquina
tece a mão, tece com zelo
e depois, se chega o frio,
não distingue quem mais sofre
vai cobrir com precisão
tanto o rico quanto o pobre
e assim eu me proponho,
sem batida de pandeiro,
sem a rima tão certeira,
a louvar cada retalho,
cada praia, cada serra
dessa terra brasileira
1.
vêm, vêm, vêm,
será que vêm de lá,
será, meu bem, será,
as rendeiras do Ceará.
2.
puxo, puxo e repuxo,
lacei muito bem laçado
o boi que já vem salgado
pro churrasco do gaúcho
3.
na viola, um repinico,
ao pé do fogo, o jogo é tranca:
balança, balança a carranca,
subindo o velho são chico.
4.
da arara não pára o grito, não pára,
cobrem d’ água a terra plana
os rios do Pantanal:
sobe e desce uma chalana.
5.
e o tesouro o que é?
tem cana aí, cumpade?
se tem paulista, tem café,
se tem caipira, tem vontade.
6.
rio-mar-montanha
mistura da mais brejeira:
soa o samba, soa a sanha
de passistas na gafieira
7.
pororoca, pororoca
num verde que não tem mais fim
pororoca amazônica
nos olhos do curumim
8.
vem da ilha, o catarina,
vai sonhando o paraná,
para lá,
para lá do rio grande do norte
e vem aqui o paiuí,
dança ali o maranhão
trocam flautas tocantins,
serra-serra mato grosso,
não se sabe se pro norte,
não se sabe se pro sul,
joga brasília a amarelinha
pulando de cá para o pará,
rondônia cutuca o acre,
amapá roça roraima,
coça a costa, paraíba,
enchem d’água as alagoas,
puxa o trabuco, pernambuco
frita o peixe, capixaba,
e a bahia? Ah, logo ali
de cochicho com sergipe
9.
assim, de retalho em retalho,
entreteço o meu trabalho,
minha colcha de azul-anil:
nossa terra desinfeliz, brasil.
por último, nesse canto
meio sem eira nem beira,
vou buscar inspiração
no lençol bem urdido
que fazia a minha avó:
de retalhos de cetim,
bem ligados com o brim
e o brim entretecido
com fitas de gorgorão,
pra formar o sete-estrelo,
ou outra figura igual,
não tem plano, não tem máquina
tece a mão, tece com zelo
e depois, se chega o frio,
não distingue quem mais sofre
vai cobrir com precisão
tanto o rico quanto o pobre
e assim eu me proponho,
sem batida de pandeiro,
sem a rima tão certeira,
a louvar cada retalho,
cada praia, cada serra
dessa terra brasileira
1.
vêm, vêm, vêm,
será que vêm de lá,
será, meu bem, será,
as rendeiras do Ceará.
2.
puxo, puxo e repuxo,
lacei muito bem laçado
o boi que já vem salgado
pro churrasco do gaúcho
3.
na viola, um repinico,
ao pé do fogo, o jogo é tranca:
balança, balança a carranca,
subindo o velho são chico.
4.
da arara não pára o grito, não pára,
cobrem d’ água a terra plana
os rios do Pantanal:
sobe e desce uma chalana.
5.
e o tesouro o que é?
tem cana aí, cumpade?
se tem paulista, tem café,
se tem caipira, tem vontade.
6.
rio-mar-montanha
mistura da mais brejeira:
soa o samba, soa a sanha
de passistas na gafieira
7.
pororoca, pororoca
num verde que não tem mais fim
pororoca amazônica
nos olhos do curumim
8.
vem da ilha, o catarina,
vai sonhando o paraná,
para lá,
para lá do rio grande do norte
e vem aqui o paiuí,
dança ali o maranhão
trocam flautas tocantins,
serra-serra mato grosso,
não se sabe se pro norte,
não se sabe se pro sul,
joga brasília a amarelinha
pulando de cá para o pará,
rondônia cutuca o acre,
amapá roça roraima,
coça a costa, paraíba,
enchem d’água as alagoas,
puxa o trabuco, pernambuco
frita o peixe, capixaba,
e a bahia? Ah, logo ali
de cochicho com sergipe
9.
assim, de retalho em retalho,
entreteço o meu trabalho,
minha colcha de azul-anil:
nossa terra desinfeliz, brasil.
(Brasilianas II )
FIM