9 de fev. de 2022

indígena

 




sou xavante

sou guarani

lanço o meu grito de bem-te-vi

pelas matas e pelos rios

quero ser livre em meu sossego

de rir o riso dos curumins

plantar pelos caminhos os ossos frios

de ancestrais que dançaram

desde a aurora do tempo

ao som do bater do coração

nos troncos da floresta

sou xavante

sou guarani

sou todos os povos de pindorama

sou todos os povos do brasil

não quero a guerra civil

ou a flecha no coração do pássaro

desejo apenas o respeito à vida

que um dia o bandeirante assassinou

os ventos que cantam no alto das árvores

sejam apenas o silvo dos rituais

não o silvo das balas dos grileiros

nem o som do machado

dos estúpidos madeireiros

não quero rezas de outros povos

deixem tupã nos governar

sou vento e brisa desses campos

sou dono dessas matas

sou dono dessas montanhas

sou dono de mim e de todos os curumins

não tenho a força da fumaça das chaminés

tenho apenas minha nudez

e o que resta de meu braço forte

para lutar contra a morte

que contra mim decretaram

aqueles que naquele maldito dia

a esperança me tiraram





23.5.2020

19.10.2020

(Ilustração: foto da internet, sem indicação de autoria)


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