sou xavante
sou guarani
lanço o meu grito de bem-te-vi
pelas matas e pelos rios
quero ser livre em meu sossego
de rir o riso dos curumins
plantar pelos caminhos os ossos frios
de ancestrais que dançaram
desde a aurora do tempo
ao som do bater do coração
nos troncos da floresta
sou xavante
sou guarani
sou todos os povos de pindorama
sou todos os povos do brasil
não quero a guerra civil
ou a flecha no coração do pássaro
desejo apenas o respeito à vida
que um dia o bandeirante assassinou
os ventos que cantam no alto das árvores
sejam apenas o silvo dos rituais
não o silvo das balas dos grileiros
nem o som do machado
dos estúpidos madeireiros
não quero rezas de outros povos
deixem tupã nos governar
sou vento e brisa desses campos
sou dono dessas matas
sou dono dessas montanhas
sou dono de mim e de todos os curumins
não tenho a força da fumaça das chaminés
tenho apenas minha nudez
e o que resta de meu braço forte
para lutar contra a morte
que contra mim decretaram
aqueles que naquele maldito dia
a esperança me tiraram
23.5.2020
19.10.2020
(Ilustração: foto da internet, sem indicação de autoria)
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